domingo, 7 de agosto de 2011

LIVRO: A vida é uma piada

Biografia...






A Vida é Uma Piada
Gleisy/ Dayse Rocha



SNR






















SUMÁRIO

Introdução               Para pagar um mico, basta estar vivo
Capítulo 1                A fase GT A
Capítulo 2                Os velórios
Capítulo 3                Tempos de escola- Parte I
Capítulo 4                Tempos de escola- Parte II
Capítulo 5                As férias
Capítulo 6                O curso de enfermagem
Capítulo 7                O estágio de enfermagem
Capítulo 8                O curso prevestibulas




















Introdução
PARA PAGAR UM MICO,
BASTA ESTAR VIVO
T
odos nós quando estamos sozinhos, dizemos ou fazemos coisas que jamais teríamos coragem de expor às outras pessoas. Quem nunca fez algo bizarro e em seguida sorriu de si mesmo? Ou quem nunca passou por momentos em que desejasse não estar alí, ou que pensassem:
- Não acredito que isso está acontecendo comigo!
Existem pessoas aparentemente sérias, mas que fazem coisas do tipo: Cantar ou treinar um” olhar 43” em frente ao espelho. Alguns como eu, podem ter umas manias esquisitas que muitas vezes nos deixa em situações bizarras. São muitas as minhas manias e a que eu considero pior, é conversar sozinha. Hoje não faço tanto quanto antes, pois comecei a me policiar quanto a isso devido aos micos que já peguei. Por muitas vezes me deparei com alguém me olhando enquanto eu conversava sozinha, então eu fingia que estava cantarolando e tinnha que dar uma de compositora e começar a compor uma música tendo como letra as besteiras que eu estava falando para disfarçar o mico. A maioria dessa “músicas” tinha como letra a frase: Eu tenho que... Pois eu lembrava de algo que tinha que fazer e acabava “pensando em voz alta”. Também tenho a mania idiota de contar postes de luz. Às vezes começo a sentir uma terrível dor de cabeça de tanto forçar a visão para contar os postes quando o carro está em alta velocidade, então penso comigo mesma: Deixa de ser besta, garota! Antes eu também contava os traçados amarelos da pista, mas consegui esquecer essa maluquisse e passei a contar os postes. Acho que comecei a fazer isso para me destrair fazendo a vigem parecer menos longa. Se algum dia eu trabalhar em uma empresa de energia elétrica, já saberei o número de postes da cidade. Minha ultima modalidade de manias é falar em pensamento as cores eu compõe uma paisagem colorida dos outdoors, gravite de rua ou tudo quanto for colorido. Um dia fiquei com o olhar fixo em uma camisa colorida de uma mulher que quando percebeu meu olhar pensou que havia algo de errado com sua barriga e deu uma olhada para conferir. Tive que desfarçar fingindo estar com o olhar destraído do tipo estou olhando, mas nada estou vendo; como fazem as modelos de passarela, mas acho que já não tinha mais jeito de disfarçar. Todos teem suas manias e não apenas os doidos, como diz um ditado. A pouco tempo confessei a uma recém conhecida, minha mania de olhar as cores e ela me confessou ter a mania de não pisar na linha quando anda em causadas composta de grandes blocos quadriculados. Coicidentemente, também já tive essa mania. A maioria das pessoas teem muitas manias esquisitas, mas nem todos teem coragem de dizer.











Capítulo 1
A FASE GTA














Capítulo 1
A FASE GTA
D
esde criança, sempre gostei de fazer coisas diferentes da maioria das pessoas. Lembro-me de jogar GTA todos os dias antes mesmo dele ter sido criado. Até hoje não entendo o que essa fase na minha infância representava; só sei que era uma viciada em imaginar. Isso mesmo; bastava um momento sem nada pra fazer para que eu já fechasse os olhos e imaginava tantas situações seqüenciadas todos os dias. Cada dia eu seguia do exato lugar que havia parado como uma espécie de novela onde eu era o que eu queria ser, fazia o que queria e também determinava o que todos que estavam nesse fantástico mundo fariam ou diriam em cada um desses “capítulos”. Hoje não posso acreditar em como desfrutava desses momentos rindo, ficando triste, chateada...

Cada dia eu seguia do exato lugar que havia parado como uma espécie de novela onde eu era o que eu queria ser, fazia o que queria e também determinava o que todos que estavam nesse fantástico mundo...
































Capítulo 2
OS VELÓRIOS


















Capítulo 2
AMIZADE DE ROBE
SINISTRO
N
a adolescência, eu comecei a querer viver situações que me fizessem superar meus limites. Concentrava-me em coisas do tipo: Não rir ao ouvir as melhores das piadas, substituir a raiva de bater o dedinho do pé na quina da parede, por um momento para risos e assim por diante. Porém, uma das coisas que foram mais difíceis de superar e a que mais me marcou, foi quando eu passei a ter uma aproximação maior com Valéria; uma antiga conhecida que se tornou uma grande amiga. Certo dia, Valéria queria que eu fosse com ela a um velório. Não entendi o interesse dela em ir a um velório de alguém que ela não conhecia a família nem o falecido. Ela gostava de uma coisa esquisita, que no início recusei participar, mas como era algo diferente, passei a fazer o mesmo. Ir a velórios assistir o momento em que o caixão chegava à casa dos familiares do falecido. Valéria achava que era à hora de maior comoção da família, pois só ao ver o ente querido no caixão a família se convence de que não mais verá aquela pessoa. A primeira vez que fui a um velório Valéria nessa nossa condição, particularmente não foi um momento agradável pra mim; não que os demais tenham sido, mas ver as pessoas beijar o falecido no caixão e conversar com ele perguntando coisas do tipo: O que será da minha vida agora, por que você me deixou... Além de ouvir longos e dolorosos gritos que dava aquele nó na garganta.
Nossa intenção nunca foi nos divertirmos com o sofrimento de ninguém, porém, particularmente eu estabeleci como meta a superação de tudo que me incomodasse ou me fizesse sentir amargura. Os casos de morte mostrados em noticiários da televisão mexiam com o meu emocional me deixando sempre com raiva ou triste. Na verdade eu nunca aceitei a morte e por isso preferia não ter nascido para não ter que conhecer a morte um dia. Por isso, decidi que só deixaria essa prática quando o fato de que um dia morrerei, não me incomodasse tanto.
Valéria e eu também íamos à delegacia da cidade ver corpos que sofreram assassinatos, suicídios, acidentes e qualquer outra atrocidade. Fazíamos de tudo para nos deixarem ver os corpos. Dizíamos ao delegado que queríamos estudar enfermagem e por ironia do destino nós acabamos fazendo um curso técnico em anos depois quando nem estávamos mais andando tão juntas. Não prosseguimos na área, pois nunca havíamos pensado em seguir essa carreira.
Vimos várias atrocidades. No início ficávamos apreensivas e tínhamos medo que se tornasse uma experiência traumática, mas depois nos convencemos de que era só um corpo, por isso não nos surpreendíamos com mais nada por pior que fosse. A sensação de não nos incomodarmos com o que incomodava a maioria das pessoas, nos fazia sentirmos poderosas.
Com o tempo, nos tornamos indiferentes ao clima negativo e triste que os velórios em si carregam. Eu brincava com Valéria chamando-a de papadifunto. Nós estávamos em todos os acontecimentos trágicos da cidade. Quem não tinha coragem de ver atrocidades perguntavam para nós como estava o corpo e nós detalhávamos com naturalidade, mas nem todos queriam ouvir os detalhes que além de não serem para pessoais de estômago frágil ainda recebiam uma dose de enfeite, gesticulações e até dramatização nossa para expressar o melhor possível.
Certa vez houve um caso de suicídio em que um homem se enforcou com uma corda no pescoço pendurado em uma árvore. Ele estava desaparecido e quando encontraram o corpo, já cheirava mal ao ponto dos urubus ficarem rondando. Só não comeram o corpo porque o vento soprava e o balançava fazendo com que os urubus não se aproximassem.
Nós duas corremos ao local para ir ver a retirada do corpo. Quando cortaram a corda, a perna do corpo se soltou, pois já estava em estado de decomposição. Ao levar o corpo para a perícia, abriram o crânio e o resto do corpo para análises e por isso fomos também ao velório ver como ficou a cabeça depois de aberta.
O rapaz era uma pessoa muito querida e seu velório tinha centenas de pessoas que fizeram uma vila enorme para vê-lo pela última vez. Nós também entramos nessa imensa fila e esperamos por muito tempo para vê-lo; não sabíamos onde ou como estava o caixão nem que já estávamos perto dele. Começou um pequeno tumulto e quando percebemos, quase caímos em cima do caixão. Ficamos dias comentando como seria horrível se isso tivesse acontecido, pois nós vimos de tudo, mas tínhamos nojo de tocar em qualquer coisa que fosse do ambiente do velório e sempre que chegávamos em casa tomávamos um banho dos pés à cabeça. Depois de um tempo perdemos o interesse e deixamos isso de lado.















Capítulo 2
O VINHO
D
epois dessa fase que hoje considero escura, minha amizade com Valéria foi marcada por momentos hiperdivertidos em nossa vida. Nós tínhamos muitas coisas em comum. Dentre essas coisas era o fato de por alguns instantes esquecermos o mundo ao nosso redor. Esse era o principal fator que desencadeava nos “micos, gorilas e king kongs” que certamente não terei coragem de revelar alguns deles. Talvez a minha fase GTA da infância tenha repercutido na minha adolescência.
Às vezes Valéria ia até a minha casa e passávamos horas falando bobagem e rindo atôa. Volta e meia, dizíamos rindo:
- A gente é besta, viu?
Certo dia, decidimos tomar um vinho para relaxar a mente, mas tudo teria que ser escondido de todos. Entramos no quatro com duas bonitas taças que peguei da minha avó para bebermos em grande estilo. Tentamos disfarçar a todo custo, conversando e bebendo, mas não trancamos a porta, pois pensamos: Se alguém vir que a porta está trancada desconfiará que estamos fazendo algo de errado. Estávamos sentados no chão com os copos e a garrafa debaixo da cama. Era só tirá-lo pra beber, esconde-lo novamente e ficar numa boa; Foi o que pensamos, mas não sabíamos que ficaríamos tão apreensivas. A cada momento que tirávamos os copos de debaixo da cama e levávamos à boca só imaginávamos alguém abrindo a porta do quarto e a cada passo da minha mãe e minha avô pela sala disparava o coração ao mesmo tempo que ficou impossível segurar os risos. O medo de um flagrante era tão grande que sem perceber acabamos com um litro de vinho em menos de dez minutos e acabamos bêbadas.
No dia seguinte, foi imensa a dor de cabeça pela bebida e agora tínhamos a preocupação de nos livrarmos da garrafa.
Saímos pela rua com a garrafa na bolsa esperando um instante a sós para jogarmos a garrafa em algum terreno baldio mas, não imaginamos que seria tão difícil. A todo lugar aparecia um conhecido e começava a conversar para atrapalhar nosso trabalho. Ficamos o dia inteiro rodando com essa garrafa até que enfim nos livramos dela.

Não sabíamos que ficaríamos tão apreensivas no tão esperado momento.
















Capítulo 3
TEMPOS DE ESCOLA
PARTE I

















Capítulo 3
MATANDO AULA
S
em dúvida os tempos de escola tem grande importância na nossa vida, seja de forma positiva ou negativa, afinal, passamos grande parte da nossa vida nela e para mim foi um tempo que deixou boas e divertidas lembranças.
A partir do 6º ano na escola, fiz novos amigos e apesar de Valéria e eu morarmos na mesma rua, não nos víamos mais todos os dias, porém, nós adorávamos viajar com o pessoal da igreja e sempre íamos juntas.
Quando comecei a estudar o ensino fundamental, eu já conhecia a maioria dos meus colegas de sala e em pouco tempo pude consolidar várias amizades que não conseguia saber quais dos amigos eram os mais próximos, porém Baby e Maura estavam sempre do meu lado. Daniele era outra colega muito próxima, porém quando estávamos juntas sempre aprontávamos algo.        
Daniele parecia uma investigadora de saídas da escola para matar aula. Por causa dela, a escola teve que mudar muitas áreas que davam acesso ao auditório para impedir nossa fuga das aulas chatas.
         Certa vez ela descobriu uma rede de esgoto desativada a muito tempo, no fundo da escola. Apesar de todos os portões da escola ficarem sempre trancados, a direção da escola nunca soube por onde conseguíamos sair, já que os muros eram muitos altos.
         Daniele chefiava essa passagem subterrânea e não dissemos a muita gente para que não chegasse aos ouvidos da direção e eles fechassem a passagem. Saíamos para tomar sorvete, ficávamos em cima das árvores à beira da pista, íamos ao local onde ficava o reservatória de água da cidade, chamada de caixa d’água. O local parecia uma chácara e não ficava funcionário, então tomávamos banho, chupávamos manga, cacau (fruto muito comum no sul da Bahia). Em uma dessas saídas da aula, tiramos foto que só foi revelada anos depois, quando encontrei um filme daqueles antigos, levei pra revelar e tive a surpresa de ver registrado um dos muitos dias em que matamos aula para ir a um bar próximo à escola e Daniele, como queria parecer chick, catou uns cocos ao redor e pôs à mesa dizendo que era pra exibir aos colegas que não saíram conosco da aula.                                                        
Apesar de todos os portões da escola ficarem sempre trancados, a direção da escola nunca soube por onde conseguíamos sair.






Capítulo 3
NA DIRETORIA? EU?
O
s meninos da nossa turma eram bastante altos e razoavelmente fortes para a idade dele. Por esse motivo temíamos algumas das brincadeiras dele. O auge do momento era pegar no colo, meninas que tivessem um baixo peso e estatura para ficar jogando entre eles de colo em colo sem deixar cair. Uma espécie de peteca humana. Como eu me encaixava perfeitamente nesse perfil, sobrei em uma dessas brincadeiras na hora do intervalo.
Além de ter morrido de medo de cair, fui chamada à diretoria e levei a maior bronca pela direção juntamente com ele: Leôncio, Roque, Pedro e Lúcio; os mais bagunceiros da sala e eu no meio deles. Eu fazia bagunça, mas tinha uma boa reputação. Ir à direção com eles queimaria feio o meu filme com os professores. Quase fui suspensa com eles por estar envolvida nas bagunças na hora do intervalo. “Bati o pé” na direção e não aceitei ser punida pelo que os meninos me fizeram até que eles se convenceram de que eu fui uma vítima e me liberaram.

Quase fui suspensa com eles por estar envolvida nas bagunças na hora do intervalo.



















Capítulo 3
A DELEGADA

N
ós tentávamos “matar aula” para ficar conversando nos corredores da escola, mas a diretora fazia marcação forte com nossa turma e por isso ela recebeu o apelido de delegada. Esse era o código que nós usávamos para nos referirmos à diretora até que ela acabou descobrindo o apelido carinhoso que havíamos dado a ela.
Uma grande parte da turma ficava nos corredores matando aula e atrapalhando as outras salas com o barulho das conversas. Quando a diretora apontada na esquina do corredor, alguém gritava: Já vem a delegada! Esse era sinal pra todos correrem para trás de uma das pilastras do corredor da escola. Ela olhava de longe, mas só via os corredores vazio então voltava para sua sala.
Quando ela descobriu esse troque deve ter preferido não saber de nada, pois ela passou a ir até o final do corredor nos perseguir como um pegapega onde nós levávamos vantagem sob ela.
        
Quando a diretora apontada, alguém gritava: Já vem A delegada! Esse era sinal pra todos correrem.



                                  













 Capítulo 3
OS TRABALHOS

 
N
ossa turma se tornou tão unida que fazíamos de tudo um pelo outro. Quando um professor fazia uma atividade em sala que valia alguma nota e um colega estava ausente, nós colocávamos o nome dele no trabalho como se ele estivesse presente para que ele não ficasse sem nota e até tentávamos responder por eles na hora da chamada. Quando o professor ficava de cabeça baixa, era só mudar a voz que dava certo; isso era feito por todos na sala um pelo outro. Os professores adoravam dividir um capítulo de um livro entre grupos formados na sala para que apresentássemos em forma oral aos demais colegas. No final da aula o professor esperava que tirássemos as dúvidas com o grupo, mas ninguém fazia pergunta alguma, pois se o grupo não soubesse esclarecer às dúvidas a nota seria menor e ninguém queria prejudicar os colegas. Para resolver isso, o professor começou a fazer debates obrigando-nos a fazer e responder perguntas senão não teríamos nota, mas mesmo assim arranjávamos um jeito: Passávamos uns para os outros antecipadamente, as perguntas que seriam feitas para que todos formulassem uma boa resposta.

O professor começou a fazer debates obrigando-nos a fazer e responder perguntas senão não teríamos nota.







 
Capítulo 3
A APRESENTAÇÃO TEATRAL
C
erta vez, nossa turma tinha uma apresentação de época para ser feita no auditório do colégio para todas as turmas. Sabíamos que a escola não perdoaria e não economizariam vaias para os nossos erros em cena. Por isso, até pedimos emprestado uns móveis antigos e arrumamos o cenário no capricho. Quando Roque e Pedro viram que o cenário teria comida e bebida de verdade, planejaram acabar com a comida do cenário durante a apresentação. Baby e eu ficamos responsáveis em preparar uma bebida que simulasse um vinho e ouvimos a conversa dos dois. Foi aí que tivemos a idéia de colocar à mesa do cenário, os copos no lugar de todos os componentes do grupo que participavam da peça, porém, deixamos os copos dos dois metidos a espertinhos, sem açúcar.
Quase estragamos a apresentação, pois nos controlamos para não rir, dos dois que tiveram que tomar o suco sem açúcar e não entenderam o fato de todos nós esvaziarmos a jarra de suco sem fazer cara feia.

Baby e eu ficamos responsáveis em preparar uma bebida que simulasse um vinho.





Capítulo 3
O RITUAL DO COMPASSO
U
m dia conversamos na área externa da escola, sentados na grama, quando Denise nos perguntou se já havíamos participado do ritual com o compasso. Alguns dos meus colegas já tinham ouvido falar, mas para mim era novidade. Nenhum de nós sabia ao certo como era esse ritual, mas Denise nos confessou ter feito em seu quarto com umas amigas e nos revelou como era: Acendia-se uma vela sob a mesa, perto de um copo com água. No meio da mesa desenhava-se numa folha de papel, um grande circulo com o compasso e ao redor do circule na parte interna era escrito o alfabeto, na parte externa, os números de um a nove; na parte superior do circulo a palavra “sim” e na inferior “não”. Segundo Denise, após umas rezas um espírito “baixara” no compasso e se comunicaria conosco fazendo o compasso girar apontando para cada letra que formaria as palavras que o espírito queria nos dizer. Curiosa, Baby foi logo pedimos para que ela fizesse esse ritual novamente.
Denise se recusou e parecia apavorada ao relatar que durante o ritual que fizera em sua casa, a porta do seu quarto havia batido sem mesmo estar ventilando e que elas tinham demorado tentando abri-la sem ao menos estar trancada. Ela disse que poderia demorar, já que o ritual não poderia ser encerado até que o espírito dissesse que sim. Ninguém poderia sair ou entrar sem a permissão dele. O depoimento de Denise apavorou alguns e despertou a curiosidade em outros que pareciam quer ver pra crer.
Insistimos até que Denise concordou, mas teria que ser durante o dia, pois ela se negou a repetir o ritual à noite por ser mais assustador, então marcamos para o dia seguinte depois da aula, na escola mesmo depois que todos fossem embora.
No dia seguinte, Denise trouxe o material necessário e esperamos a escola ficar em silêncio. No início, tudo que eu queria era mostrar à Denise que ela e as amigas teriam ficado um pouco impressionadas e por isso teriam tido alucinações na noite em seu quarto, mas o clima de seriedade que invadiu o ambiente com pessoas tão brincalhonas me fizeram pensar sobre o ritual. Será que realmente não teriam um espírito maligno querendo iludir as pessoas por traz desse ritual aparentemente simples? Antes de começar, comentei com Jéssica que estava apreensiva e ela me confessou o mesmo. Escrevemos do lado direito do quadro o nome Jesus em tamanho bem pequeno para não despertar a atenção dos outros nem demonstrar nossa tensão em estar presente naquele momento. Aliás, a preocupação de todos ali era se mostrar tranqüilo mesmo não estando. Denise deu início ao ritual acendendo a vela, repetindo as rezas e nós só observávamos. A primeira pergunta que ela fez olhando para o compasso que estava em pé apoiado por apenas o seu dedo indicador, foi: Tem alguém aí? Então o compasso girou e parou na palavra “sim”. Em seguida ela perguntou: Você quer que alguém saia dessa sala? Mais uma vez o compasso girou para a palavra “sim”. Denise, visivelmente nervosa perguntou mais uma vez: Quem você quer que saia? O compasso girou e parou na letra “J”, então Jessica foi convidada a se retirar da sala. Mais uma vez Denise pergunta: Tem mais alguém que você quer que saia? O compasso novamente para no “sim”.
– Quem? O compasso gira e novamente para no “J”. Denise explica: Não tem mais ninguém aqui com essa letra e fez a mesma pergunta, então o compasso caiu sob a mesa e à partir dali, só se via olhos arregalados saindo depressa da escola olhando para trás como se estivesse fugindo da polícia.
No dia seguinte, esse foi o assunto mais comentado por nós na escola e já havia mais gente curiosa pra ver o tal ritual. Depois que tudo passou, conversei com Jessica sobre o que aconteceu na sala depois que ela saiu e chegamos à conclusão de que a outra pessoa que o espírito não queria que estivesse na sala com a letra “J”, era o nome de Jesus que escrevi no quadro.
Decidimos não participar mais desses rituais nem por curiosidade, mas só se comentava sobre isso nos corredores da escola e logo outros declararam saber fazer o ritual. Várias pessoas estavam curiosas para conversar com o tal espírito e cada vez mais aumentava a freqüência desses rituais ao ponto de chegar aos ouvidos da direção da escola que pediu para que parasse de ficar invocando espíritos dentro da escola. A coitada ficou apavorada e começou a fiscalizar todas as salas antes de ir embora. Até hoje não sei se de fato aconteceu alguma comunicação com espírito ou tudo não passou de uma bobagem.

Acendia-se uma vela sob a mesa, perto de um copo com água. No meio da mesa desenhava-se numa folha de papel, um grande circulo com o compasso.







Capítulo 4
TEMPOS DE ESCOLA
PARTE II















Capítulo 4
A MUDANÇA DE TURMA
E
studamos na mesma turma por quatro anos e já estávamos iniciando o ensino médio, então a escola decidiu que nossa turma seria separada. Ficaríamos em salas diferentes, pois fazíamos bastante bagunça.
Na sala, de um lado ficava nós que vínhamos do turno da tarde e do outro a turma da manhã- A maioria morava na cidade vizinha. Não nos unimos. Um não ia com a cara do outro. Coisa da adolescência, sabe? Achávamos que no turno matutino a maioria dos alunos era metido à besta e não queríamos nos separar. Na primeira semana todos nós ficamos na mesma sala, mesmo estando matriculados em salas diferentes. Na hora da chamada, os que não tinham seus nomes na lista diziam ao professor que seu nome não estava no diário dele. Pensando ser um esquecimento dos funcionários da escola, os professores colocavam os nomes que faltavam e foi assim que conseguimos voltar a ficar juntos.

Decidiram dividir a turma colocando-nos em salas diferentes e para complementar a divisão, dentro da sala fomos nós quem nos dividimos.









Capítulo 4
ELIAS? AH NÃO!!!
O
que eu não esperava era estudar na mesma sala de Elias- um amigo de infância que nunca me dei bem. Nossas famílias eram próximas, menos Elias e eu que brigávamos por segundo. Eu não pude acreditar que teria que aguentar Elias.
No início eu preferi não ter muita aproximação, mas ele sempre se infiltrava entre as pessoas que andavam comigo e volta e meia agente se estranhava e discutia. As discussões se tornavam cada vez mais freqüentes e a cada dia eu o suportava menos, chegando ao ponto de não mais suportar ouvir sua voz e era só ele me dirigir à palavra para começarmos um bate-boca. O que mais me irritava era a cara cínica que ele fazia.
Certo dia, a professora Arlene da disciplina de português, estava durante sua aula de costas para nós escrevendo no quadro e a sala toda calada escrevendo o conteúdo, quando comecei a brigar com Elias. Descontrolei-me e acabei pegando ele peço pescoço contra a parede. Quando cai na real, todos estavam nos olhando, inclusive a professora que por sinal era uma fera, mas diante da cena não teve reação pra dizer nada, pois nem entendeu o que estava acontecendo. Para entender a gravidade do caso, é preciso conhecer pelo menos uma história dessa professora Arlene. Ela tinha um porte forte e voz firme. Todos a respeitava e passou a respeitar ainda mais, quando certa vez Oscar estava sentado como de costume na porta da sala; Arlene o pedir para mudar de lugar, pois ela quis fechar a porta da sala. Oscar era muito estudioso e não participava de bagunças, mas não foi muito amigável ao se negar a mudar de lugar alegando se sentar ali todos os dias e não sairia dali. A professora Arlene disse:
- Arlene: Ou você sai ou eu te tiro daí
Oscar, assim como nós, deve ter imaginado que ela recorreria à direção para que o tirasse da porta da sala e respondeu:
- Oscar: Então venha tirar
 Daí em diante, a sala olhava perplexa e calada não acreditando no que via; à professora Arlene puxava a cadeira com Oscar sentado. Os dois puxavam a cadeira de um lado pro outro, até que a força da professora superou a de Oscar, e ela fechou a porta dizendo:
- Arlene: Podemos continuar nossa aula.
Foi durante a aula dessa professora que eu perdi a cabeça por causa de Elias e além de tudo, depois desse episódio viramos motivo de piada.
No início eu preferi não ter muita aproximação, mas ele sempre se infiltrava entre as pessoas que andavam comigo.







Capítulo 4
AS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
 
A
dorávamos as aulas de educação física. Acordávamos cinco da manhã e alguns ainda acordavam mais cedo só para passar na casa da professora Jaldene e dos outros colegas mais dorminhocos para assegurar que não faltariam a aula.
Lembro-me de uma colega chamada Keila, que usava a aula de educação física como pretexto para namorar um menino do turno da manhã que ela havia conhecido. Keila morava com os avós que por sinal, eram muito rígidos e não a deixava sair de casa ao não ser para atividades da escola.
Keila se arrumava para as aulas de educação física só para desfilar para seu paquera, mas a grande maioria, inclusive eu, íamos porque ficamos viciados no jogo do momento. Baleado- também conhecido como queimado. Por muito tempo levamos esse esporte a sério com uma rotina de treinos onde os meninos lançavam a bola com toda a força que podiam para que as meninas encaixassem a bola.
Nós, da turma “A” éramos muito criticados pela turma “B” em tudo e existia uma recíproca.
Como as duas turmas insistiam em dizer que tinha o melhor time, tivemos que nos encarar em um torneio da escola. Ganhamos esse torneio e comemoramos como uma final da copa do mundo.
Só paramos de praticar o baleado quando nos proibiram de jogar sem a companhia da professora de educação física.
Em um dia chuvoso, a professora se negou a dar suas aulas. Pulamos o portão da escola e nesse dia, Baby escorregou na quadra molhada, caiu e quebrou o dente durante um jogo que fizemos “debaixo de chuva”.

Acordávamos cinco da manhã e alguns ainda passavam na casa da professora Jaldene e na dos outros colegas mais dorminhocos.










Capítulo 4
A PROFESSORA DO VERBO TO BE
T
ivemos uma professora de inglês chamada Sofia que foi uma gozação à parte por dois motivos: primeiro porque por três anos consecutivos em que ela lecionou para nossa turma, ela sempre dava o verbo to be; segundo, porque ela tinha um cabelo que mais parecia uma escultura. Nem um fio ficava fora do lugar, e por isso os meninos riam dela e lhes deram o apelido de: A professora que vinha de moto e nunca tirava o capacete; pra falar a verdade, a cabeça dela ficava mesmo muito grande e arredondada. Ela que me desculpe, mas não tinha quem não desse risada desses caras que eram os verdadeiros comediantes anônimos.
Ela era o tipo de professora que trabalhava na “marcha lenta”, por isso deve ter sentido que deveria fazer algo diferente conosco, afinal já eram três anos na mesmice.
Nossa turma era realmente fora de controle, porém tínhamos a fama de tirarmos boas notas, principalmente em apresentações, seminário e           aulas.
Sofia nos passou a tarefa de fazer uma apresentação com uma música internacional e não seria apenas para nós, mas para todas as turmas do colégio. Seria à noite para todos os alunos de todos os turnos nos assistirem. Essa apresentação seria a nota da ultima unidade da disciplina de inglês.
Reunimos a turma várias vezes para escolhermos por votação a escolha da música e só acabava em ânimos exaltados e discussões. Não era nada fácil dirigir as reuniões do grupo com pessoas como Leôncio, Roque, Pedro e Lucas. Quando eles não faziam a reunião se transformar em um palco humorístico, provocavam brigas entre si, sempre por brincadeiras ou comentários de mau gosto.
O tempo passava e não chegamos a um consenso democraticamente, então foi à base da ditadura que alguns integrantes (as meninas) decidiram: Iremos coreografar uma música dos Backstreetboys e pronto. Procuramos um coreógrafo para nos ajudar e começamos os ensaios exaustivos no auditório cheio de ninho de andorinhas que volta e meia soltava fezes na cabeça de alguém. Suamos para ganhar essa nota.
Enquanto esperávamos que todos chegassem aos ensaios, ficávamos aprontando pelo auditório e aos arredores da escola.
Em um desses ensaios, a sortuda Baby que já havia quebrado o dente na quadra jogando baleado, caiu no auditório e bateu um dos seios no chão e teve que ir ao hospital com muitas dores, pois ela já estava nascendo os seios e havia levado uma pancada enorme.
Muitos ficaram comentando que ela iria ficar adulta com um seio só, por ter quebrado a pedra do seio. Não sei de onde tiravam essas histórias.
Nós gostávamos de chamar a atenção em tudo e as apresentações eram o momento que podíamos extravasar.
Pensamos em tudo: Maquiagem, cabelo, figurino, iluminação e principalmente efeitos especiais.
Compramos bastante fogos de artifício coloridos para acender no início da apresentação, convidamos um grupo de capoeiristas para dar uns saltos de cima de uma espécie de meia parede que havia no fundo do palco do auditório. Alguns dos meninos se empolgaram com a ideia e quiseram ficar dançando sem camisa em cima dessa meia parede e nós achamos ótimo para enriquecer nossa apresentação. Tudo estava muito bem planejado para o grande dia.
Chega o grande dia e como combinado, todos chegariam duas horas antes para passar o ensaio e se arrumar ou não participaria da apresentação.
Toda e qualquer ideia que tínhamos era colocada em prática por mais esdrúxulas que elas fossem e uma dessas ideias foi pintar o cabelo dos meninos com tinta a base de água. Alguns minutos depois, os meninos começaram a reclamar de coceira, ardor e incômodo na cabeça devido a tinta começar a secar e deixar a pele impossibilitada de movimentos e com isso os meninos ficaram incapazes de fazer o que eles tanto gostavam que era rir o tempo todo. Qualquer pequeno movimento repuxava a pele e causava desconforto. Teve um caso mais grave, que parecia que havia tido alergia a algum componente químico da tinta, pois ele ficou com a pele muito vermelha e como tinha uma pele clara, ficou bastante visível. Apesar de todos pedirem para lavar, foram proibidos de fazer isso e tiveram que agüentar até o término da apresentação.
Chega a tão esperada hora da apresentação. Abre-se a cortinas do palco ao mesmo tempo em que uma quantidade de fogos foram acesos dando um charme e glamour ao ambiente. Tudo corria como planejado e a plateia estava respondendo bem com palmas e gritinhos no ritmo da música. Muitos saíram de seus lugares para ver mais de perto.
Gostamos tanto do efeito da fumaça no palco que quando ela começou a se desfazer acenamos discretamente ao rapaz que ficou encarregado em acender mandando acenda o resto dos fogos que restava. Dessa vez capricharam na dose e acenderam tantos fogos que desaparecemos em meio à fumaça. Os olhos, o nariz e a garganta começaram a arder incomodando e atrapalhando muito nosso desempenho e mesmo se parássemos de dançar, ninguém notaria, pois só viam fumaça com luzes piscando.     Um dos meninos que estava dançando em cima da meia-parede com os capoeiristas, ao ver as meninas gritando em vê-los em camisa, se empolgaram e resolveu experimentar um salto e acabou com o pé torcido.
Depois de tanto trabalho, a professora recebeu muitos elogios da coordenação da escola, por algo que ela nem se quer orientou e nos deu uma mísera nota seis que nos deixou revoltados ao ponto de uma colega esquentada mandar a professora colocar a nota em um lugar que não preciso falar.

Ela que me desculpe, mas não tinha quem não desse risada desses caras que eram os verdadeiros comediantes anônimos.





Capítulo 4
FOGOS DE FESTA JUNINA
E
ra inverno e nessa época nós queríamos mesmo era ficar em casa assistindo televisão debaixo de um cobertor bem quentinho.
O mês de junho, além de ser o mês do inverno, também é o mês das festas juninas no nordeste e nessa época encontramos em qualquer esquina da cidade os mais diferentes tipos de fogos de artifício.
Um dos meninos levou para a escola, fósforo, algumas bombinhas que foram jogadas durante o intervalo nos banheiros e um cordão cheiroso (Uma espécie de cordão de lã, que quando aceso exala um terrível odor de fezes).
Tiveram a idéia de acender durante o intervalo e deixar todas as janelas da sala fechadas e as últimas aulas era a da professora do verbo to be.
Eu participei da brincadeira acendendo o fósforo enquanto outro colega segurava o cordão. Saímos e deixamos o cordão terminar de queimar na sala. O cheiro na sala era tão horroroso que dava vontade de fazer vômito.
Quando o sinal tocou, deixamos que Sofia fosse a primeira a abrir
a porta, pois era sua aula. Surpreendendo a todos, ela teve uma reação que nunca imaginei que tivesse devido seu ritmo constantemente lento. Ela estava muito ofendida e reclamou à direção, se recusando a dar aula.
A diretora deu o maior sermão na turma e procurou os envolvidos no ato, para levar uma suspensão por uma semana, mas ninguém entregou, é claro, então a diretora decidiu suspender a sala inteira e o que fizemos vou gritar um êêêêêêêê em coral. Teríamos férias de são João antecipada! Mediante nossa euforia não recebemos suspensão, pois a direção entendeu que isso não seria um castigo e tudo ficou por isso mesmo.

Tiveram a idéia de acender durante o intervalo e deixar todas as janelas da sala fechadas e as últimas aulas era a da professora do verbo to be.





Capítulo 4
A ALUNA NOVA
N
o meio do ano, uma aluna foi transferida para nossa escola, na nossa turma para ser mais específica.
Ela tinha um nome esquisito para ser justo à dona: Se chamava Everlany.
Nos seus primeiros dias de aula ela ficou isolada, mas nos dias seguintes ficamos com pena da menina e tentamos socializá-la.
Ela se sentava na primeira fila e tudo que propomos para que ela se enturmasse, a resposta era sempre: Eu não curto! Toda frase negativa que ela sabia dizer era: Eu não curto! Ela parecia nos esnobar não querendo se misturar conosco, mas a cara de menina carente nos fazia querer ajudá-la a se adaptar a nova escola, mas a frase que ela usava (Eu não curto), despertou uma empatia da sala inteira pela menina.
Ela era tão do contra que todos da turma concordaram em ter um uniforme personalizado com nosso nome, apelido e uma cor escolhida por nós em votação, menos ela que foi a única da sala com uniforme diferente e adivinhe que frase ela usava quando perguntavam o porquê da farda dela não ser igual aos dos colegas? Se você respondeu “eu não curto”, parabéns! Você acertou. Ninguém nunca soube o que aquela criatura curtia. Acho que ela curtia não curtir nada.
Os meninos começaram a concretizar o repúdio, fazendo bolinhas de papel com toda folha rasurada que não servia mais e ficavam mirando pra ver quem acertava na cabeça da menina. A maioria sempre acertava no alvo. O meio da enorme cabeça oval de Everlany.
Todos queriam testar sua pontaria e as lixeiras já não “viam” mais papel algum. Isso virou febre na sala. Todos recebiam e davam boladas de papel e quase sempre não conseguíamos saber de onde viria ou de onde veio. Elias recebeu o apelido de galinha chocadeira ao ser solicitado pela temida professora Arlene a se levantar e lá estava a surpresa: Ele estava sentado em cima de dezenas de bolinhas de papel como uma galinha chocando seus ovos.
Nós já havíamos nos adaptado com Everlany, mas parece que infelizmente ela não, pois novamente mudou-se para outra escola, mas a guerra de papel aos que se sentavam na primeira fila continuou e até chegou à direção quando o impacto de uma inofensiva bolinha de papel passou a ser bastante dolorosa ao colocarem pequenas pedras em meio a bolinha.
Eu nunca estava de fora das bagunças da sala alias, eu me sentava no fundo da sala próxima aos piores bagunceiros da sala que também eram um dos piores da escola, mas ninguém percebia minhas bagunças pela minha discrição. Às vezes desconfiavam de mim, mas eu reclamava os outros em tom de voz agressiva, dizia que queria prestar atenção na aula e que não estavam deixando. Tudo isso para passar despercebida. Certa vez, mirei em um colega que estava à minha frente, ao mesmo tempo em que me escondi do professor de química. No exato momento que lancei a bolinha de papel, a colega se baixou a cabeça para escrever no caderno me deixando de cara com o professor e a bolinha de papel que foi parar no meio do diário do professor que mesmo me vendo em sua direção, levantou os olhos, olhou primeiramente na minha direção e em seguida olhou à sua volta perguntando quem foi. Pensei que ele tivesse certeza de que fui eu, mas acho que pela minha cara de inocente, ele descartou minha possibilidade de culpa.

Tudo que propomos para que ela se enturmasse, a resposta era sempre: Eu não curto!







Capítulo 4
PRESOS NA ESCOLA

 
C
erto dia, decidimos ficar na escola conversando enquanto os funcionários limpavam as salas, corredores e banheiros. Já não havia mais ninguém por lá além de nós: Pedro, Roque, Lúcio, Leôncio, Silvia, Baby, Abiel, July, Gislene e eu. O tempo havia passado tão rápido que já estava escurecendo e nem notamos Quando nos demos conta, já não havia ninguém por lá além de nos e estávamos trancados na escola. O desespero foi grande, pois não tínhamos acesso à área externa da escola, onde poderíamos sair pela antiga rede de esgoto desativada ou pedir ajude a quem passasse em frente à escola. A única solução seria enfrentar o muro alto e pular. Trabalhamos em grupo para erguer os primeiros a pular, que foi logo Silvia que morava mais longe da escola e Baby, que morrendo de medo, ficou sentada em cima do muro com uma cara de dúvida: Pular ou não pular, eis a questão! Depois do grito e o barulho da queda, ninguém mais quis subir no muro, até que graças a Deus as serventes apareceram a tempo de não acontecer algo realmente sério. O pior dessa história foi saber que tudo não passou de uma brincadeira. Fingiram ter nos esquecidos.

O desespero foi grande, pois não tínhamos acesso à área externa da escola.






Capítulo 4
A PROVA DE MATEMÁTICA
T
odo início de ano nós fazíamos a mesma promessa: Estudar para tirar notas altas no início para poder ficar despreocupados no final do ano, mas nunca conseguimos levar a promessa adiante e apesar de passar em todas as disciplinas, sempre ficávamos em matemática. Não sei bem onde estava o problema, pois a nossa turma sempre foi muito inteligente e 90% da turma sempre ficavam na recuperação.
Tudo começou quando Pedro chegou à sala eufórico dizendo que ao ir ao armário da sala dos professores para pegar o diário que ele havia esquecido, viu nossa prova de matemática prontinha, mas ele deve ter se achado tão inteligente que tentou decorar as questões da prova ao invés de pegar uma cópia. Quando perguntamos se ele tinha apanhado uma prova, ele respondeu: Era pra eu ter feito isso mesmo, não é? Ah que vontade de bater em Pedro, mas só o chamamos de burro umas cem vezes por minuto. Leôncio teve a idéia de nós irmos para o fundo da escola esperar todos saírem pra entrar e pegar uma prova. Se já haviam conseguido pular para fora do muro, seria fácil pular para dentro, pois a altura era maior na parte de fora. Tudo que tínhamos que fazer era levantar três dos meninos até o alto do muro para que eles pulassem para dentro da escola. Tudo tinha que ser feito das 17:30 às 18:00, pois às 19:30 a escola era aberta para as aulas o turno da noite.
Percebemos que a volta seria complicada, pois dois dos meninos teriam que puxar o ultima para cima do muro e para isso colocamos uma menina e dois meninos ao invés de três meninos. A escolhida foi Baby e ela seria a ultima a subir, pois seria mais leve.
Eles entraram e ficamos esperando vigiando a área. A demora parecis muito grande; uns cinco minutos que se parecem uma hora quando se estar fazendo coisa errada. Preocupados com o horário, resolvemos chamá-los para que se apressassem. Isso foi o suficiente para eles se desesperarem e saíssem correndo sem pegar o principal da missão. A prova de matemática!
Depois que saíram, Pedro teve coragem de dizer que estava com a prova na mão, mas quando nós o gritamos, ele colocou de volta no lugar pensando que havíamos dado o sinal de que vinha gente para abrir a escola.
Todos só sabiam dizer a frase: Pedro é muito burro!

Tudo começou quando Pedro chegou à sala eufórico dizendo que ao ir ao armário da sala dos professores para pegar o diário que ele havia esquecido, viu nossa prova de matemática prontinha.






Capítulo 4
ELIAS E O JOGO DE DAMAS

A
oportunidade que eu tinha de aprontar com Elias, não deixava passar.
Eu havia levado um jogo de damas para escola e jogamos durante o intervalo, fazendo apostas que variavam entre: Um beliscão, um tapa ou um chute em quem perdesse o jogo. Quando tocou o sinal, guardei o jogo porque o professora poderia tomar se nos vissem jogando durante a aula, ainda mais se soubesse o tipo de apostas.
Elias insistiu pedindo para jogar com João. Eu dizia não e ele insistia ainda mais. Foi aí que tive a idéia. Disse a ele que eu daria o jogo de dama para que eles jogassem escondido no fundo da sala, mas se ele perdesse a primeira partida para João, eu passaria batom nele pra todo mundo ver. Ele quis desistir, mas agora fui eu quem insistiu com pressão psicológica do tipo: Não confia em você? Já sabe que vai perder? Ele já havia disputado com João no recreio e ganhou algumas partidas, então ele aceitou minha pressão.
Para minha alegria ele perdeu e eu mal podia esperar para passar batom nele. Esperei o momento em que o professor saia da sala para a vinda da próxima aula e escolhi meu batom mais escuro de cor café. Chamei a atenção dos colegas para o momento e comecei a deslizar o batom nos lábios dele que ficaram bastante destacadas por conta da sua cor de pele branca. Elias de batom foi motivo de risos por vários dias.       Nossos colegas às vezes o chamavam com palavras no feminino, só para lembrá-lo a cena do batom.
Um dia o chamei numa boa pra conversar e pedi que ele se esforçasse pra não me stressar que eu também faria o mesmo com ele para evitar desgastantes brigas ou então se ele não conseguisse fazer isso, que me fizesse o favor de nunca me dirigir a palavra pra mais nada, pois eu não queria mais esse clima de brigas constantes.
Acho que deu certo, pois nós até nos tornamos amigos, mas isso nunca nos impediu de às vezes termos algumas recaídas e começarmos uma discussão.

Nossos colegas às vezes o chamavam com palavras no feminino, só para lembrá-lo a cena do batom.




Capítulo 4
ELIAS JOGADO PELA
JANELA

U
m menino chamado Ítalo de mais ou menos treze anos recém- chegado à escola, estava chamando a atenção de todas as meninas. Ítalo era um baixinho invocado que recitada versos e passava cantada às meninas a toda hora. Sempre chegava elogiando as meninas e distribuindo beijinhos em todas. O que ele não sabia era que os meninos da nossa turma já estavam de olho nele esperando uma oportunidade para lhe dar uma lição.
Durante o intervalo o galanteador Ítalo entrou na sala procurando logo o grupo das meninas para dar beijinhos, quando Leôncio lhe disse: Ei pivete, lá fora você faz o que quiser, mas aqui dentro você não entra e ainda mais com essa ousadia com as meninas. Cai fora daqui!
O guri todo metido resolveu enfrentar logo Leôncio acompanhado por Lúcio e Roque. Lúcio virou para Ítalo e disseram: Só por causa da sua ousadia, você entrou pela porta, mas agora vai sair pela janela seu baixinho.
Fecharam a porta da sala e os três agarraram o menino e enfiaram pela pequena janela abaixo. O coitado saiu quase chorando.
Logo em seguida Elias chegou e ouviu a história e sem demonstrar satisfação, se mostrou incomodado com a atitude dos meninos. O que parece, Elias não se incomodou pelo fato de os meninos ter jogado o guri pela janela, afinal ele também gostava de uma bagunça. O que o incomodou foi o fato de ter jogado o guri por ser pequeno e ousado. Exatamente como ele era. Elias tomou as dores de Ítalo e discutiu com os meninos que o ameaçaram jogá-lo também pela janela.
Ele insistiu em confrontar, então os meninos foram “obrigados” a jogá-lo também para impor respeito. Eu só assistia e ria da luta entre os meninos. Elias parecia ter quatro braços de tanto que se esquivou dos meninos, mas ele já estava com as pernas do lado de fora da janela, quando pra sorte dele nossa colega Flávia que era defensiva dos pequenos e injustiçados, chegou a tempo e conseguiu tirá-lo das mãos dos meninos.
No final de tudo, ele ainda teve a coragem de se exibir dizendo que ele sozinho ganhou dos meninos. Deve ter se esquecido das pernas pra fora da janela. Coisa de baixinho invocado!

O que parece, Elias não se incomodou pelo fato de os meninos ter jogado o guri pela janela, afinal ele também gostava de uma bagunça. O que o incomodou foi o fato de ter jogado o guri por ser pequeno e ousado.






Capítulo 4
A PROVA DE BIOLOGIA
E
u sempre adorei a disciplina de biologia e nunca tive problema com nota. Tivemos uma professora chamada Ana, que tinha um aspecto engraçado ao falar e se referir a nós como se estivesse dando aula para crianças usando as palavras sempre no diminutivo. Isso era pelo fato dela ter trabalhado anteriormente com crianças e por esse motivo ela nos tratava como crianças.
Do dia da prova de biologia, Ana confiava em nós e não imaginava que nós tivéssemos algumas atitudes. Inocentemente, ela foi até a sala dos professores buscar algo e deixou as provas sob a mesa dentro do diário, diante de pessoas que até pularam murro por uma prova. Abiel correu até a porta para vigiar enquanto Roque pegou a prova e começou a ler para toda turma que aproveitava para dar uma olhadinha no conteúdo e revisar o que estava na prova.
Quando a professora Ana estava voltando, o sinal foi dado e todos correram calados para se sentar, quando a pilha de provas mal arrumadas escorregou e por impulso, leve a mão para arrumar. A professora me “pegou” com as mãos sob as provas que me olhou com cara de decepcionada. Pensei comigo: Uma imagem vale mais que mil palavras; eu jamais acreditaria se alguém me dissesse que estava arrumando as provas e se eu dissesse isso à professora, teria que explicar o motivo que fez as provas se desarrumarem. Como eu não entregaria ninguém, fiquei calada e aceitei fazer a prova de recuperação sozinha, sem problemas. Escutei a professora sem dizer nada e tive que me retirar da sala.
Uma das minhas colegas pediu a palavra à professora dizendo não achar justo e esclareceu que eu não havia feito nada, mas que também não diria quem foi.
A professora me chamou de volta para fazer a prova e me perguntou o por quê de não ter me defendido. Respondi que a verdade parecia uma mentira de pior qualidade que nem eu mesma acreditaria em mim se dissesse em frete ao espelho. A única coisa que ela teria certeza é que não saberia nunca quem mexeu nas provas.

Pensei comigo: Uma imagem vale mais que mil palavras; eu jamais acreditaria se alguém me dissesse.





Capítulo 4
O DESAPARECIMENTO DOS CADERNOS
À
s vezes queríamos ir para casa no intervalo e deixávamos o caderno na sala para que ao sair no portão, não chamasse a atenção da diretora. No final da aula, alguém sempre guardava o caderno do outro e devolvia no dia seguinte.
Todos já estavam acostumados e os meninos já estavam abusando, pois tinha preguiça de carregar o caderno e deixava para que Baby levasse para casa dela, pois ela morava em frente a escola. Certo dia, Pedro jogava futebol e foi embora deixando o caderno na quadra junto com os outros. Eu peguei e combinei com Baby em escondê-lo para deixá-lo procurando por um tempo.
Nosso caderno tinha valiosos vistos de atividades do professor de matemática, que valiam nota.
No dia seguinte, o dito cujo pergunta na sala: Quem ficou com meu caderno ontem? Ninguém respondeu como ele esperava. Ele perguntou a um e a outro, disse o local que havia deixado, mas ninguém tinha visto que eu saí com o caderno dele depois do jogo.
Pedro já estava nervoso por não encontrar o caderno e Elias começou a rir dele sem parar. Ele entendeu que os risos de Elias significavam que ele havia escondido seu caderno então ele ficou calado e esperou a primeira oportunidade para dar um fim no caderno de Elias.
Agora Elias começou a procurar pelo seu caderno e Pedro ficou calado justamente para não levantar suspeita, mas Roque, não só sorria o tempo todo de Elias como também o chamava de vacilão, lerdão.... Então Elias o identificou como o que havia escondido seu caderno.
E foi assim que 90% dos cadernos da sala desapareceram sem deixar pistas. Os poucos que ficaram com o caderno, foram tomados na marra e arrancados as folhas no final do ano, excerto o meu, pois passei a não mais levar meu caderno para a escola.
Só agora estou revelando quem começou a guerra dos cadernos. Talvez muitos dos meus colegas nunca saberão que fui eu na companhia de Baby, quem deu início a tudo isso.

Nosso caderno tinha valiosos vistos de atividades do professor de matemática, que valia nota.









Capítulo 5
AS FÉRIAS
















Capítulo 5
O SHOW
M
ais ou menos no ano de 1994, com aproximadamente onze anos de idade, Mauro, um namorado de minha tia estava com o som ligado quando cheguei. Era o CD “Coração Aberto” Por Amor de um cantor chamado Kim, que também era vocalista de uma banda de Rock Pop- Banda catedral. Ainda me lembro da primeira música que escutei- “Meu coração” e em seguida escutei “Por Amor” e a partir Dalí, não parei mais de ouvir a Banda Catedral e Kim, a qual sou fã até hoje.
Anunciaram um show da banda catedral na região e Mauro veio correndo me contar a novidade. Seria no dia 24 de julho de 1999, na cidade de Itabuna-Ba que ficava a algumas horas da minha cidade e é claro que eu fiz de tudo para estar lá.
Entramos em uma caravana que formaram e fomos ao primeiro show da banda. Mauro e eu. Aliás, Mauro insistia em imitar a voz de Kim a todo instante e ninguém o agüentava.
Para um fã, o show sempre é muito emocionante e meu primeiro show da banda catedral, foi sensacional.
Pouco tempo depois, Mauro me deu a notícia de outro show. Agora seria só do vocalista que cantava músicas mais românticas. Tudo que ouvi dizer foi que haveria um show de Kim e que seria no sábado na cidade de Jequié-Ba. Eu tinha uns tios que moravam por lá, então não teria problema.
Mauro teve um compromisso e não podia ir, então procurei alguém para ir comigo.
Valéria também era fã, mas como a notícia tinha sido de ultima hora, ela estava sem dinheiro e também não pôde ir. Enfim encontrei Hegy. Um amigo que tocava violão comigo e que também gostava de Kim, mas não como eu.
O convidei para ir e ficar na casa da minha tia e ele topou coitado! Mal sabia o que aconteceria, ou melhor: O que não aconteceria.
Chegamos à casa da minha tia à tarde e à noite nós estamos arrumados e saímos para o show. Minha tia disse que não sabia desse show e era pertinho da casa dela. Fomos à pé mesmo, seguindo as orientações que ela nos deu do local. No ginásio de um colégio em uma esquina. Chegamos ao local sem dificuldade, mas o local estava escuro e não havia ninguém por lá. Teriam cancelado o show? Erramos o endereço?
Mauro havia mentido para mim e por isso não foi ao show comigo? Essas foram as perguntas que ficamos nos          fazendo, afinal, Mauro sempre falava para todos os nossos amigos dos tempos em que eu por muitas vezes o chantageei quando descobri o namoro com minha tia. Ele poderia estar se vingando no meu ponto fraco.
Mas, não era nada disso. As informações eram corretas, porém a data do show eu não perguntei. Realmente seria no sábado, mas no próximo sábado dia 20 de novembro de 1999. Nós chegamos uma semana antes e só me restou dar muita risada da situação e principalmente de Hegy que me culpava e se culpava por não ter considerado o pressentimento que teve de que não deveria ir.
Voltamos para casa e no sábado seguinte, liguei para minha tia para confirmar e ela me confirmou que haveria mesmo o show. Chamei Hegy novamente, mas ele não quis mais ir, depois de ter ido com tanta empolgação e não ter dado certo, então ele deu o convite a Valéria para que ela fosse em seu lugar.
Enfim, tudo conferia com um ambiente de show. Nos arredores do Ginásio já se via um número de pessoas acima do comum, com muitos carros e vendedores ambulantes.
Agora sim, estávamos no esperado show. Ao entrarmos no Ginásio, encontramos vários amigos que foram em caravanas. Muitos eu nem sabia que gostava da banda catedral.
Enquanto estávamos esperando o início do show, tive a impressão de que um homem que passava em meio ao ginásio, era Kim e ninguém se deu conta de que era ele. Mostrei a Valéria, mas ela não acreditou que fosse ele, pelo fato de ninguém ao menos ter tirado uma foto. Mesmo assim insisti e chamei Valéria para tirarmos a dúvida.
Observamos o local onde ele havia entrado e fomos até lá. Na porta havia um segurança, então pensamos: Só pode ter sido mesmo ele.                 Dirigimo-nos ao segurança e nem pedimos para entrar. Só pedimos para que ele tirasse uma foto de Kim para nós, mas ele se negou alegando não poder sair da porta. Insistimos até que ele disse: Eu vou perguntar para o Kim se ele permite a entrada de vocês. Então ele entrou e ficou um tempão lá. Pensamos: Ele não vai sair mais; deve ter dito isso pra se livrar de nós.
De repente ele saiu e nos disse: Kim mandou vocês entrarem. Olhamos uma para a cara da outra como quem não acreditava, mas entramos e ele realmente estava lá sentado em um sofá comendo uma maçã. O abraçamos tiramos fotos e ficamos lá no camarim tirando a maior onda. Até brinquei com ele ao tentar tirar uma foto quando ele levava a maçã à boca, mas ele parava e fazia pose dizendo que a foto ficaria feia com a boca aberta. Quando ele se distraiu, ganhei dele e fiz a foto; então ele me olhou sorrindo e disse: Você conseguiu, não é?
Cansamos de ficar no camarim e saímos. Depois entramos, saímos, entramos... exatamente oito vezes.
Não contamos pra ninguém para que não se formasse um tumulto na porta e nós não pudéssemos mais entrar, mas resolvemos contar só para uma amiga e pedimos para que isso ficasse só entre nós,mas a escandalosa chamou a atenção de todos com a esteria; isso foi o suficiente para todos ficarem sabendo e uma fila quilométrica se formar para entrar no camarim. Que arrependimento! Mesmo assim, no final do show, nós voltamos para nos despedir, mas dessa vez tivemos que enfrentar a fila.
Mauro havia mentido para mim e por isso não quis vir? Essas foram as perguntas que ficamos nos fazendo, mas não era nada disso.








Capítulo 5
A VIAGEM PARA OS BURIS
Meu avô tinha umas terras em uma cidade bem mais distante da nossa e morava lá a muitos anos. Minha mãe resolveu que todos iriam passar o final de semana lá, só que eu não queria ir e mesmo não me importando em ficar em casa sozinha, fui obrigada a ir.
Para não ser tão chato, chamei Valéria para ir conosco e ela adorou a ideia. Minha tia Daniela, irmã da minha também foi conosco.
Quando criança eu gosta de ir aos Buris, mas já tinha ido tantas vezes que já não achava a menor graça ir para lá. Tínhamos que ficar sempre de calça por causa dos mosquitos, o tempo parecia não passar e às noites parecia que estávamos isolados do mundo.
Na época não tinha energia elétrica e o escuro provocava logo o sono, então íamos dormir cedo ouvindo um monte de barulho de grilos, rãs e muitos outros insetos e animais.
Como dormíamos cedo, despertávamos cedo também e mesmo se quiséssemos acordar mais tarde, não tínhamos sono para continuar dormindo depois das seis da manhã; Por esse motivo, os dias pareciam mais longos do que eram.
Fomos para passar um final de semana, mas para meu azar, começou a chover sem parar e isso nos impossibilitou de sair, pois não precisava ir muito longe para o carro ficar atolado na estrada de barro vermelho.
Já fazia quinze enormes dias que estávamos lá e nem Valéria estava curtindo mais a viagem, pois chovendo só podíamos ficar em casa sem absolutamente nada pra fazer.
A chuva cessou, mas ainda não dava para ir, pois tínhamos que esperar a estrada secar.
Valéria, tia Daniela e eu, não aguentávamos mais ficar ali; tia Daniela disse que conhecia o caminho que nos levaria até a rodovia para pegarmos um ônibus até a cidade de Dário Meira onde moravam umas irmãs da minha avó, então tivemos a ideia de ir andando até a rodovia e pegar um ônibus para esperaríamos pelo resto do pessoal lá.
O problema era que não tínhamos dinheiro suficiente para nos manter lá; ou melhor, para nos divertimos.
A única saída que tivemos foi pedir dinheiro ao meu avô.
Para não dizer ao velho que estávamos odiando visitá-lo, inventamos uma estória e dissemos a ele que a tia de Valéria iria embora para muito longe e que Valéria teria que ir para se despedir da tia.
Meu avô adorava quando íamos para os Buris e fazia de tudo para nos agradar, mas nos deu o dinheiro sem questionar por exemplo,o fato de duas pessoas estarem acompanhando Valéria ao invés de uma.
Arrumamos nossas roupas em apenas uma enorme mochila, pegamos uma barra de requeijão que meu avô comprava, pois adorávamos, nos arrumamos, nos perfumamos todas de salto e pegamos a estrada.
Combinamos que cada uma levaria um pouco a mochila no decorrer do caminho. Eu me ofereci para ser a primeira a carregar a mochila para me livrar logo da tarefa.
Saímos cantarolando e terminando de se maquiar. Conversamos, conversamos e não percebemos o tempo passar, nem percebemos que tia Daniela há muito tempo caminhava calada.
Quando resolvemos perguntar se faltava muito para chegar, tia Daniela nos revelou que não sabia onde estávamos e já passava das quatro horas. Às cinco horas na roça sem energia elétrica, já começaria a escurecer e às seis, tudo já estaria completamente escuro.
O desespero foi grande, mais ainda assim fazíamos piadinhas e ríamos com a nossa cruel realidade. Já estávamos suadas, descabeladas e com muita sede, até que encontramos água que saia de debaixo de uma pedra. Pegamos uma folha de planta e a fizemos de copo para tomar água, quando Valéria disse:
- Uau! Igual nos filmes de aventura!
Começamos a rir, então tia Daniela chamou a nossa atenção dizendo que precisávamos sair logo dali, senão iríamos dormir ali. Isso nos deixou muito preocupadas e para nos confortar nesse momento difícil, Valéria disse carinhosamente:
- Sua avó disse que por aqui tem onça!
Quanto mais andávamos, mais perdidas ficávamos.
Era a vez de Valéria carregar nossa mochila quando chegamos a um lugar que era uma ladeira enorme com o solo solto, bastante escorregadio. Para passarmos por ali, primeiro tiramos o salto e seguramos em uma árvore já escolhendo a árvore seguinte que nos apoiaríamos e descemos feito carro sem freio se agarrando de árvore em árvore para não descer ladeira abaixo rolando.
Quando estávamos saindo dessa ladeira, Valéria acabou caindo com a mochila pesada e eu não pude deixar de soltar aquela gargalhada.
Andamos sem parar correndo contra o tempo, até que escutamos o barulho acompanhado com o eco de machado cortando lenha.
Tentamos saber de qual lado vinha o barulho, mas era muito difícil, pois escutávamos o barulho de um lado e o eco saia do outro.
Tia Daniela começou a gritar:
- Tem alguém aí?
- Estamos perdidas, por favor, nos ajude! Socorro!
Andamos tentando seguir em direção ao barulho inicial do machado, até que chegamos até um lugar com o chão cheio de carvão e muitas árvores queimadas. Havia um homem lá trabalhando. Imediatamente “mergulhamos” por baixo da cerca de arame que nos fez vários arranhões que não sentíamos no momento devido à adrenalina de estarmos perdidas.
Pedimos ajuda a aquela homem que nos ignorou não dizendo uma palavra se quer. Minha tia ficou desesperada, pedindo pelo amor de Deus que nos ajude e o homem não respondia nada, até que ela se lembrou de como eram interesseiros e prometeu que se ele nos dissesse o caminho à rodovia, ela iria trazer roupas para ele e a família.
Foi aí que o explorador sem coração resolver nos dizer o caminho às pobres inocentes donzelas perdidas na mata.
Graças a Deus não demorou muito e nós avistamos à rodovia, quando de repente vimos umas vacas com bezerro e do outro lado do arame, umas crianças brincavam, então perguntamos:
- Essas vacas são bravas?
O menino respondeu:
- Sim, elas estão com bezerro e se alguém encostar elas pegam.
Eu já tinha medo até de bezerro, já havia descartado a possibilidade de passar perto daquela vaca e depois de ter escutado isso...
Mais uma vez mergulhamos por baixo de arames, nos ferindo e sujando ainda mais nossa roupa, quando ouvimos o outro menino dizer:
- É mentira dele, moças.
Estávamos destruídas física e psicologicamente, que até um guri magricelo curtia com a nossa cara.
Subimos em uma cancela, abrimos a mochila e retiramos o requeijão que havíamos trazido e começamos a come-lo esperando pelo ônibus e imaginando a vergonha de chegarmos à cidade toda destruído, fedidas e arranhadas. Torcemos para não haver muita gente na rua e que não nos reconhecessem depois.
O tempo passava e o ônibus não dava nem sinal. Nem ao menos os carros comum passava por ali .
Durante todo o tempo que ficamos lá, só passaram dois carros. O primeiro carro tinha dois homens que nos ofereceram carona, dizendo que estavam indo a uma festa em um sítio e perguntou se queríamos ir e na volta eles nos deixariam onde estávamos indo. Claro que dissemos que não e esperamos pelo ônibus que nunca chegava, então veio o segundo e único carro que vimos passar nessa rodovia. Era um caminhão que tinha um adesivo no vidro dizendo: Proibido carona.
Vimos que se tratava de um caminhão de empresa e com medo de não passar ônibus algum, acenamos pedindo carona e ele parou. Rimos ao ler o adesivo para o motorista.
Para nossa sorte, aliás, a única dos últimos quinze dias, ele estava indo para um mercadinho que ficava ao lado da casa que nós íamos. Enfim chegamos ao nosso destino todas sujas e fomos tomar um banho.
Foi o banho mais doloroso que tive. Minhas pernas estavam bastante arranhadas e ardia muito quando molhava.
Minha tia morava em uma casa muito grande e como ela morava lá com a mãe que era bastante velha, ela fazia de sua casa uma espécie de hotel, alugando os quartos que, aliás, era o único hotel da cidade.  Agora, só pensávamos em esquecer tudo que havia acontecido e nos divertirmos.
Saímos para conhecer a cidade e logo de cara uma figura meio esdrúxula chamada Márcio veio se apresentar para nós e para nosso azar, ele não saiu mais de perto. Tinha uma cara de pau, incrível! Mesmo que não déssemos a menor atenção, ele ficava nos rondando o tempo inteiro.
Não pudemos conhecer mais ninguém, nem nos divertir com aquele infeliz no nosso pé. Chegamos a falar:
- Tem gente que “não se toca”, não é? Não percebe que está incomodando!
O infeliz ainda tinha coragem de concordar conosco e ainda contar casos de amigos que incomodavam os outros.
Nada do que dizíamos para fazê-lo “se tocar” dava certo.
Por coincidência, ele conhecia Lanna; uma amiga nossa que tinha uns parentes lá. Ele nos disse que havia namorado ela.
Ficamos comentando, como ela teve coragem de namorar um mala daquele.
Quando encontrei Lanna, falei em tom irônico:
- Conheci um namorado seu recentemente.
Ela ficou curiosa perguntando quem era e quando eu disse Márcio...
Ela soltou um alto: Deus me livre daquela coisa!
Foi aí que fiquei sabendo que ele também havia grudado no pé dela quando ela estivera lá.
Conversando sobre o assunto com Valéria, chegamos a conclusão de que Márcio diria o mesmo de nós para alguém, mas com quem ele diria que havia namorado dessa vez? Ficamos uma torcendo para que a outra fosse a escolhida daquela mala de papelão sem alça, cheia de pedra em dia de chuva, chamado Márcio.

Fomos para passar um final de semana, mas para meu azar começo a chover sem parar e isso nos impossibilitou de sair.








Capítulo 5
NA RUA DO ABRIGO
I
lma era uma irmã de Valéria que tinha se mudado para a cidade vizinha e que também era minha amiga. Há muito tempo eu não a via, então Valéria estava indo visitá-la e chamou-me para irmos juntas.
Era uma tarde de verão, quando Valéria e eu saímos de casa. O calor era muito grande com temperatura por volta dos 37°. Depois que descemos do ônibus, compramos um sorvete para refrescar e começamos a andar. O sorvete acabou e ainda não havíamos chegado.
Eu não sabia onde ficava a casa de Ilma; só sabia que era na rua de um abrigo para idosos porque Valéria havia me dito. Perguntei a Valéria se já estava chegando e como ela adorava me torturar psicologicamente, teve a brilhante ideia de me dizer que não estávamos nem na metade do caminho. Debaixo de um sol daqueles, não pensei duas vezes quando nos ofereceram carona. Aceitei de cara, mas não entendi o motivo de Valéria se negar a aceitar, já que era um senhor de idade muito simpático. Ela não queria entrar no carro, então eu a forcei e até a empurrei no carro.
Valéria entrou sem graça e quando o senhor perguntou para onde estávamos indo, ela respondeu meio sem graça:
- Estamos indo para a casa de minha irmã, mas não sei onde é. Só sei que fica na rua de abrigo para idosos.
Andamos 100 metros, quando o senhor parou na porta do abrigo e nos disse. É aqui, vocês já estavam na rua certa.
Quando descemos, Valéria me disse que só estava brincando comigo, mas não imaginou que arrumaríamos uma carona justamente naquele momento. A única saída que ela teve foi fingir que não sabia onde era para o senhor não nos achar umas folgadas que pega uma carona para não andar 100 metros.






Capítulo 5
O RETIRO
E
u adorava os retiros que fazíamos com os jovens da igreja. Minhas amigas Valéria e Baby também iam. Geralmente eram três dias afastados da civilização. A festa já começava em cima do caminhão quando íamos iguais as romeira cantando, tocando violão e “comendo poeira”, mas tudo para nós era maravilhoso.
Sempre ficávamos em uma fazenda de nome curioso. “Os doidos”. Os donos moravam lá e não gostavam nada desse apelido que deram maldosamente àquele lugar.
Todo ano íamos aos feriados de páscoa, carnaval ou São João. Ficávamos em um local com três repartições. As mulheres se alojavam na repartição, onde ficava a enorme feira de três dias para quase 80 pessoas juntamente com panelas e acredite: Era o lugar mais confortável. Aos homens restava dividir espaço em uma estufa e outra pequena casa.
Levávamos nosso colchão e dormíamos todos no chão. Tudo era bem rústico. As tarefas de limpeza e da cozinha eram divididas entre nós. Apesar de dormimos tarde, acordávamos bem cedinho com muita disposição para aproveitar o dia.
Nos sentíamos tão donos do pedado que certa vez, nem avisamos que estávamos indo e quando chegamos tivemos uma surpresa. Já havia mais de cinquenta pessoas para chegar e iriam ficar em nosso lugar.
Para não voltar pra casa, tivemos que dividir os espaços que já eram pequenos. Como havíamos chegado primeiro, nos apossamos dos melhores lugares. O pior foi ter que conviver com pessoas desconhecidas. Não sabíamos como seria, pois ficávamos à vontade para brincar entre nós, mas com estranhos por perto nada seria igual.
Os meninos gostaram porque teria várias mulheres pra eles xavecar, já as mulheres de ambos os grupos ficaram em clima de competição de poder. A situação foi caótica. Por toda parte havia pessoas estranhas e parecia que durante o dia eles se multiplicavam iguais pragas resistentes a inseticidas.
Os nossos lugares preferidos no rio estavam infestados por eles; o lugar da rede, a área fora do alojamento... O jeito foi aproveitar para nos divertirmos rindo deles.
O banheiro não estava dando para mais ninguém e além de tudo eles eram desorganizados. Sujavam tudo e não limpavam nada. Os meninos do nosso grupo carregavam água para a limpeza do banheiro, enquanto que os deles não. Começamos a reclamar do cheio horroroso que eles deixavam e tivemos que interditar o banheiro não deixando mais ninguém (além de nós) usá-lo.
A partir daí, muitos resolveram caminhar pela estrada à noite. No início achávamos que estavam contemplando o céu estrelado, mas no dia seguinte, as fezes na estrada eram incontáveis como as estrelas do céu estrelado.
Certo dia os meninos que estavam alojados na estufa, resolveram esperar que os meninos da casa dormissem para acordá-los dando um susto neles ao atirar uma enorme pedra na porta da casa.
Ao levarem um enorme susto, os homens quiseram se vingar fazendo o mesmo e assim nenhum dos homens dormiu e as mulheres muito pior que ficaram no meio do bombardeio de pedra.
No dia seguinte, dormimos depois do almoço para recuperara a noite perdida.
No alojamento dos homens na hora de dormir acontecia de tudo. Tinha um que sabia fazer uns movimentos na barriga para soltar vários gases bem fedidos, tinha uns que resolviam cantar a música: Um elefante incomoda muita gente, dois elefantes incomodam muito mais... A diferença entre um homem sozinho e vários homens juntos, é que sozinho ele é um ridículo solitário enquanto que juntos eles são incrivelmente ridículos coletivamente.
Tiveram coragem de molhar o colchão de Luy que ficou sem ter onde dormir e pior que no dia seguinte ao ir colocar o colchão para secar ao sol, todos acharam que ele havia feito xixi na cama.
Luy sempre levava seu som e eu escutava música nele à tarde depois do almoço. Foi aí que tive a ideia de programar o som para despertar em alta madrugada no volume máximo. Consegui dar um grande susto neles, mas teria sido maior se eles estivessem dormindo. Quando íamos a esse lugar, eles dormiam durante o dia e ficavam acordados à noite.
Ninguém nunca sabia do que o outro ria. Vanderley se encantou por uma das meninas do “grupo dos visitantes estranhos” e começou uma longa conversa tentando convencê-la a namorar com ele.
O que ele não sabia era que todos nós havíamos percebido o que rolava e Robson que era um comediante nato, marcou a hora que ele havia começado a conversar com a menina. Segundo Robson, foram mais de três horas de lábia e enquanto isso, Robson transformava o assunto num programa de rádio interagindo conosco pedindo a opinião e apostas com perguntas do tipo:
- Vanderley irá convencê-la?
- Qual será o final dessa históra?
Vanderley conseguiu convencer a menina a ir a um lugar mais reservado e Robson nos informava o avanço do caso que ele chamou de brasleiro, pois Vanderley não desistia nunca!
Robson nos chamou para irmos ver o final do caso e quando ele beijou a menina, um grupo de meninos surgiram entre os dois, colocaram Vanderley sob os ombros e deram a “volta olímpica” enquanto nós gritávamos e assobiávamos. Só o casal não sabia o que estava acontecendo.
A menina era muito tímida ou muito sonsa pois se escondeu e depois disso evitou contato com Vanderley para não ser alvo das piadas dos meninos que não perdoavam. Quase estragamos o namoro do coitado que levou desse retiro o apelido de brasileirinho: Não desiste nunca.
Certa vez, nem avisamos que estávamos indo e quando chegamos tivemos uma surpresa.






Capítulo 5
A CASA AVIÃO
A
lyson é um velho amigo meu e de Valéria.
Certo dia, sua família ia viajar para a casa de um tio que morava em uma fazenda, então ele nos chamou para irmos juntos passar o final de semana e topamos.
Zico era um amigo de Alyson que acabou se tornando nosso amigo e que também foi à essa viagem.
A casa era enorme e tinha um formato de avião com dois corredores de quartos que representava as asas. Valeria e eu, logo corremos para escolher o quarto que iríamos ficar e por sorte pegamos o único que tinha uma televisão.
O tio de Alyson tinha um criatório de galinhas e resolveu que iria matar duas delas para o almoço, porém existia um pequeno problema: Ele só tinha uma munição para a espingarda. Como resolver essa situação? Matando duas galinhas com a única munição. Pois foi exatamente isso que ele fez e isso não é conversa de pescador. Se me contasse, eu não acreditaria, mas eu mesma vi a cena.
O tempo estava bastante frio, pois era inverno, então à noite nos cobríamos com um lençol enquanto jogávamos dominó na varanda com as pernas sempre em cima da cadeira. O tio de Alyson também criava uns sapos enormes que andava por toda a casa comendo os insetos.
Os dois quartos tinham chave, mas Valéria e eu não sabíamos que eram todas iguais e na primeira noite, Alyson entrou em nosso quarto e encheram nosso rosto de creme dental.
No dia seguinte não dissemos nada, mas eles sabiam que não deixaríamos barato. Alyson, Zico e Wesley (irmão de Alyson) resolveram que a televisão deveria ficar no quarto deles, mas Valéria e eu, apesar de sermos minoria não permitimos e eles tiveram que assistir conosco se quisesse.
Estávamos só esperando o momento que eles fossem dormir para nos vingar. Alyson e Zico foram dormir cofiando que Wesley trancaria o quarto e não deixaria que nós entrássemos no quarto deles. Wesley ficou assistindo enquanto Valéria e eu fingíamos estar dormindo também, até que Wesley não agüentou e acabou dormindo.
Levantamos “nas pontas dos pés” e fomos sujar os meninos com creme dental, mas quando fomos ao banheiro, não havia um creme dental se quer em nenhum dos banheiros, mas eles não deram importância a um resto de creme de barbear que estava em uma bisnaga velha. Peguei o creme de barbear e espalhei primeiro no rosto de Alyson, pois eu sabia que tinha sido ele o principal autor da brincadeira. Não tive pena e passei até no ouvido. Eu estava me divertindo em ver os desenhos que eu fazia no rosto de Alyson, quando sem querer soltei um ruído ao tentar segurar o riso e ele acordou assustado passando a mão no rosto, espalhando o creme de barbear nos olhos e a quantidade que pinguei no ouvido dele acabou o deixando uma semana com o ouvido meio surdo cheio de sabão. O melhor dessa história foi que fizemos Zico e Alyson acreditarem que Wesley nos deu a chave do quarto deles para que fizéssemos tudo que queríamos.
No dia seguinte eu cometi o erro de querer fazer novamente a brincadeira. Fui de manhã bem cedinho ao quando dos meninos tentando sujar Wesley e Zico, mas Alyson acordou e me empurrou debaixo do chuveiro molhando todo meu moletom.

No dia seguinte não dissemos nada, mas eles sabiam que não deixaríamos barato.










Capítulo 5
O CONGRESSO DE JOVENS

O
 Atual líder de jovens da igreja era Alyson e apesar de não ser da igreja dele, eu tinha vários amigos lá e por isso eu sempre ia aos eventos que aconteciam com os jovens.
O congresso de jovens acontecia durante o final de semana com a presença de jovens de toda a região. Era uma boa oportunidade de conhecer varias pessoas legais. Conheci uma menina da minha cidade que também estava indo para o congresso e fomos conversando. Ela era a única menina conhecida que estava indo comigo, mas para mim não seria problema, pois o congresso seria na cidade onde minha amiga Caroline morava.
Eu estava ciente que teria de obedecer às regras e nem me passou pela cabeça quebrá-las, mas logo no primeiro dia, o que eu menos esperava aconteceu.
As mulheres ficaram alojadas em uma escola e os homens em outra. Para o meu azar, Alyson ficou responsável em manter a ordem da ala masculina, enquanto outro rapaz da cidade hospitaleira com um apito de juiz no pescoço ficou responsável pelo alojamento das mulheres.
À noite, quando não teve mais atividade no alojamento, sai para procurar meus amigos que moravam nessa cidade. Às 11:30 voltei para o alojamento e quando cheguei da esquina, percebi a grande movimentação e barulho que acontecia no local, então resolvi voltar para a praça onde eu estava e retornar mais tarde quando fôssemos todos dormir.
Trinta minutos depois, voltei e para minha surpresa não havia mais ninguém do lado de fora. O barulho não existia e o enorme portão trancado era bastante longe das salas onde estavam as outras meninas.
Que mico! Tive que gritar para um monte de pessoas estranhas abrirem o portão. Eu poderia voltar e dormir na casa da minha amiga, mas isso não seria legal. Fugia totalmente das regras.
Por sorte ou azar, sei lá, uma menina levantou para ir ao banheiro e quando ela passou pelo corredor eu a gritei para que chamasse o responsável pelo alojamento, mas ao invés de fazer isso ela gritou: Ladraaaaaaão. Eu mereço, viu? Como uma pessoa em um congresso da igreja tem tanta falta de fé em Deus!
Todos acordaram com o escândalo da menina, mas o que me impotava era que o cara que ficava com a chave estava vindo, mas para minha surpresa ele não se aproximou de mim. Ficou de longe pedindo para que eu provasse que fazia parte do alojamento. Lembrei da menina que conheci no caminho, e disse:
-Chame Maria. Ela me conhece. Mais uma sorte. O rapaz voltou dizendo que não havia nenhuma Maria lá. Eu havia esquecido o nome da criatura, mas graças a Deus ela notou que eu não estava lá e foi ao portão e me reconheceu.
Depois do vexame, fiquei toda sem graça e Alyson ainda levou uma bronca por minha causa, mas tudo bem.
Eu mereço, viu? Como uma pessoa em um congresso da igreja tem tanta falta de fé em Deus?






Capítulo 5
2º CONGRESSO DE JOVENS

O
Congresso tinha sido tão bom que no ano seguinte resolveram fazer novamente na mesma cidade.
Eu estava mais animada ainda, pois além de já conhecer pessoas na cidade, também havia feito amizades no último congresso e desta vez, minha companheira foi Baby.
Decidimos colocar o básico de nossas coisas em uma única mala e o nosso básico dava para viajar por uma semana.
Ainda não sabíamos o local que ficaríamos e já lamentávamos o peso da mala para carregar, quando escutamos um rapaz se informando com os passageiros do nosso ônibus. Era o mesmo local que iríamos, então não perdemos tempo e fomos logo fazendo amizade com Erick.
Ele era muito gente boa; se ofereceu para carregar nossa mala. Coitado! Não sabia o peso que o esperava. Ele estava sozinho e se animou ao nos conhecer, pois não se sentiria isolado.
Para nossa surpresa, não ficaríamos acampados em escolas como de costume. Cada pessoa da igreja levaria para sua casa, duas pessoas que estavam no congresso.
Baby e eu ficamos nos esquivando enquanto tentávamos analisar quem seria o melhor hospitaleiro.
Erick foi antes de nós. Um casal de velhinhos que moravam sozinhos o levou e ele adorou. Foi logo se soltando chamando-os de vô e vó na maior intimidade.
Baby e eu escolhemos e escolhemos bem. O Sr Nely morava com a esposa e tinha dois filhos. Uma menina de doze e um menino de oito anos e todos foram muito simpáticos e nos receberam muito bem.
No final dos cultos à noite, os jovens se encontravam na praça para conversar e se conhecer. A esposa do Sr Nely até nos entregou uma cópia das chaves de casa para que pudéssemos chegar a hora que quiséssemos.
Até então, Erick era só elogios aos seus “avós”, mas já no segundo dia, ao terminar o culto, o casal chamava por Erick:
- Vamos para casa dormir, meu neto.
Coitado de Erick. No melhor da festa ele não podia ficar e nós ríamos dele e mostrávamos as chaves dizendo que podíamos ficar até quando quiséssemos.
Nem eu nem Baby sabíamos andar na cidade e resolvemos sair caminhando para conhecer e fingirmos que sabíamos onde queríamos ir. Saímos andando e quando chegava numa esquina de rua, cada uma ia para um lado oposto a da outra, então combinamos de decidimos antes para que lado iríamos e diríamos à outra baixinho: Direita ou esquerda.
E assim fomos conversando até que chegamos a uma rua onde de um lado havia bastante homens jogando e bebendo na calçada e para não passar por entre eles, dei o sinal
-Eu: Esquerda.
- Baby: Direita.
-Eu: Esqueeeeerda.
- Baby: A esquerda é rua sem saída!
Ficamos nesse vai e vem fazendo zig zag para não demonstrar que estávamos perdidas e tivemos que fazer o que mais temíamos e odiávamos: Dar meia volta e seguir.
Nossa amizade com Erick parecia ser de anos e anos. Ele não era do tipo que só se aproximava por interesse. Muito pelo contrário. Ficamos mesmo amicíssimos. Durante o dia, saíamos para tomar sorvete, conversar, conhecer a cidade. Ele nos apresentava os novos amigos feitos durante o congresso...
O problema é que Lauro, namorado de Baby, também estava no congresso e passou a desconfiar da amizade de Baby e Erick.
Erick abraçava Baby e eu, mas sempre que ele fazia algo a Baby, Lauro aparecia do nada e via a cena. Eles brigavam muito durante o congresso, pois Lauro não acreditava que só havia amizade e mesmo Baby dizendo que Erick fazia as mesmas coisas comigo como: abraçar, pegar na mão e sair andando pela rua, ele não acreditava.

Baby e eu ficamos nos esquivando enquanto tentávamos analisar quem seria o melhor hospitaleiro.







Capítulo 5
PROGRAMA DE ÍNDIO

Flávia era irmã de Alyson e também era minha amiga. Certo dia, combinamos de sairmos em um sábado à noite para nos divertir e chamamos Ane, uma amiga para ir conosco.
Alguns amigos de Flávia que eu até então não conhecia, havia nos convidado para ir a uma pizzaria encontrar com uma galera para conversarmos noite a fora e conhecer novas pessoas.
A distância era de 27 km; o equivalente a mais ou menos 30 minutos no máximo, mas o último ônibus de volta para nossa cidade saia as 00:00 horas e depois só teria ônibus às 4:00 da manhã. Combinamos de voltar no ônibus da meia noite.
Alyson e Wesley (irmãos de Flávia),  eram bastante ciumentos com a irmã e começaram a questionar para onde estávamos indo, o que iríamos fazer, quem iríamos encontrar lá todas arrumadas “daquele jeito”.
Nós só ríamos das caras deles e saímos quando Wesley gritou com a cara na janela:
-Só não quero que liguei pra mim, pedindo para eu ir buscá-las depois de perder o ônibus!
Essa foi a praga que eles nos jogou. E aqui pra nós, que praga poderosa, viu?
Logo quando chegamos, a cidade estava fria e silenciosa devido ao clima chuvoso. Como chegamos mais cedo do que havíamos marcado, fomos à praça principal da cidade para ver o movimento, que para nossa surpresa não existia. Ah que tédio reinava por ali! Por que não fiquei em casa?
Fomos à pizzaria e esperamos até que apareceram uns quatros gatos pingados de pessoas. Comemos uma pizza e conversamos um pouco sem muita animação. Quando Flávia foi questionada sobre o que fazíamos ultimamente, ela respondeu usando um termo que estamos bastante acostumados a falar, mas que só usávamos apenas entre os íntimos.
- Estamos meio BN, sabe?
- Lucas: BN? O que isso significa?
Não resistimos e “caímos na risada”. Flávia ficou constrangida e respondeu:
- Flávia: BN, é quando estamos sem nada para fazer, sabe?
- Lucas- Ok, mas qual o significado da sigla BN?
Aí não agüentamos mais de tanto rir. Como Flávia diria que a sigla BN significava Bosta N’água. Do tipo, não sabe se sobe ou se desce.
Ela não teve coragem de explicá-lo e tentou enrolar mudando de assunto.
Quando estávamos saindo em direção ao ponto de ônibus que era próximo à pizzaria, uma chuva fina começou a cair e então resolvemos esperar mais um pouco, afinal, ninguém queria estragar a chapinha.
Faltava apenas cinco minutos para a meia noite e como a chuva não parou, nos despedimos dos meninos e tivemos que ir nos molhando.
Esperamos, esperamos e nada do ônibus aparecer. Ele nunca atrasava! Poderia até vir adiantado, mas atrasado não. E foi isso que havia acontecido. Nos informamos com algumas pessoas que estavam no local e nos disseram que o ônibus já havia passado a quase dez minutos atrás. Teria sido a praga de Wesley se cumprindo? Em parte sim, mas teria sido completa se nós ligássemos pra ele ir nos buscar.
Preferimos usar um plano “B”. Flávia ligou para um tio dela que era taxista e trabalhava por perto e ele nos levou para dormirmos na casa dele.
No dia seguinte levantamos quase de madrugada e pegamos um ônibus de volta para casa. Foi horrível sair pela manhã vestidas com roupas próprias para noite. Com bastante brilho e rendas transparentes que não tinha nada a ver usá-las durante o dia na moda da época.
Não poderíamos dar a Alyson e principalmente Wesley, o gosto de rir da nossa cara, então dissemos que a conversa estava tão boa que não vimos a hora passar e perdemos o ônibus.
Ríamos muito nos lembrando de Flávia tentando explicar a sigla BN e por isso eles ficaram mais curiosos com o que havia acontecido naquela noite. Nossa conversa foi encerrada com Flávia usando mais um dos nossos termos:
-Flávia: Nunca mais eu faço um programa de índio desse!

Quando Flávia foi questionada sobre o que fazíamos ultimamente, ela respondeu usando um termo que estamos bastante acostumados a falar, mas que só usávamos apenas entre os íntimos.








Capítulo 6
O CURSO DE ENFERMAGEM






Capítulo 6
A NOVA ESCOLA
E
u ainda estudava o segundo grau, quando uma escola agrícola a uns 20 Km da nossa cidade foi reaberta com cursos técnicos.
Lembro-me de Gislene me chamando para fazer matrícula no curso de enfermagem, mas recusei, pois até então a área de enfermagem não me atraia. Com a insistência dela, muitos dos meus colegas foram estudar. Entre eles tinha Damily, Baby, Janaína e até Elias. Eu fui a ultima a me decidir; na verdade eu só fui porque me interessei pelas áreas de biologia que o curso oferecia e pelo fato de não me separar da turma, pois sempre nos encontrávamos à tarde pela rua para conversarmos.
Vivemos bons momentos durante o curso de enfermagem. Não havia rotina, principalmente porque íamos para a escola de carona- prática muito comum na região.
Éramos um grupo grande, onde só havia Elias de homem, por isso ele ia sempre nas primeiras caronas, pois nós meninas não tínhamos dificuldade em conseguir carona, enquanto que os meninos... Digamos que não tinham muita sorte. Sozinho só encontrava carona em cima de caminhão.
Por ser uma escola agrícola, da entrada até a escola eram quase 2 km. Ou íamos a pé aventurando encontrar vacas no caminho ou esperávamos o ônibus da escola.

Eu fui a ultima a me decidir; na verdade eu só fui porque me interessei pelas áreas de biologia que o curso oferecia e pelo fato de não me separar da turma.




Capítulo 6
AS CARONAS
S
ão muitos os casos engraças das caronas, mas a maior das pérolas com certeza foi quando Gislene acenou pedindo carona e o carro parou bem mais adiante.
Quando ela foi abrir a porta do carro para entrar, a porta estava trancada e o motorista falando ao celular que levou um susto ao ver alguém tentando abrir a porta do seu carro. Ele havia parado para falar ao celular e não para dar carona.
Na ida para a escola, nós até escolhíamos as caronas. Os que passavam oferecendo, nós só íamos se fosse um conhecido. A frase para os oferecido era: Coisa oferecida, se não está podre está fedida!
Baby gostava de brincar dizendo que só iria se o carro tivesse ar condicionado. Porém na volta para a casa, a coisa era bem diferente. Todos ficavam ansiosos para chegar em casa, tomar um banho, descansar e ninguém queria ver anoitecer sem chegar em casa. Das 17:00 hs (quando terminava a aula) às 18:00 o dia escurecia muito rápido.
Nós sempre esperamos uns pelos outros tanto para ir, quanto para voltar da escola, mas Elias sempre se atrasava mesmo morando perto do ponto. Por várias vezes deixamos de ir por causa dele, então às vezes ninguém esperava por ele para ver se ele começava a chegar na hora certa.
Em um desses dias que o deixamos, Elias chegou à escola mais lubrificado que motor de carro: com a roupa cheia de óleo.
Sem nós, as caronas que ele conseguia eram em cima de carroceria de caminhão e esta estava bastante suja óleo.
Em outra vez que Elias se atrasou, eu estava na cantina e minhas colegas estavam na sala de aula. Apenas eu tive o prazer de presenciar uma cena cômica e bastante engraçada.
Como o ônibus da escola já havia passado a muito tempo, com preguiça de caminhar, Elias pegou carona na entrada da escola com Babau; um funcionário da escola que dirigia um trator. Mas só havia lugar no reboque que o trator puxava. Reboque é uma espécie de carrocinha que os carros anexam ao fundo para transportar algo.
O trator correndo na estrada de chão provocava uma tremedeira horrível e a única posição que lhe dava segurança pra não cair era com uma mão de cada lado da carrocinha, com o bumbum levemente erguido. Essa cena foi demais para mim uma simples mortal, que quase teve um ataque de tanto rir.

A frase para os oferecido era: Coisa oferecida, se não está podre está fedida!






Capítulo 6
CARRO ENGUIÇADO
G
islene e eu vivemos juntas dois momentos incomuns. Certo dia, pegamos uma carona e ao chegar à entrada da escola, o rapaz disse que estava atrasado, pois iria viajar, mas iria nos levar até a escola para que nós não precisássemos esperar o ônibus da escola ou ir andando.
Quando o rapaz parou na porta da escola, agradecemos e saímos; a partir daí o rapaz tentou ligar o carro e não mais conseguiu. Morremos de vergonha, mas entramos como se não havíamos percebido nada.
Assistimos às aulas e depois que saímos, o rapaz ainda esta lá tentando funcionar o carro. O coitado teve que caminhar até a entrada da escola para ir buscar um mecânico ou um carro que pudesse puxá-lo.
Outro momento com Gislene, foi quando ficamos até mais tarde na escola e resolvemos ir caminhando até a entrada da escola para pegar o        ônibus para nossa casa. Fomos conversando pelo caminha e nem percebemos que já estava bastante escuro.
Gislene começou a entrar em pânico quando avistou um grupo de homens que vinham conversando e rindo, mas que nem havia nos visto.
Ela saiu correndo de volta para a escola, depois de já termos chegado ao nosso destino (a entrada que era de frente à pista).
Tentei explicar a ela que eram os meninos que trabalhavam por lá e que estavam voltando do jogo que eles faziam toda sexta-feira à tarde depois do trabalho, mas ela não me ouviu e correu sem olhar pra trás.
Só me restou acompanhá-la. Quando chegamos à escola, Gislene tremia e toda nervosa disse algumas coisas às outras pessoas que ainda estava lá.
No dia seguinte, os alunos da escola estavam em pânico e várias pessoas nos olhavam com pena procurando saber como eram as pessoas que tentaram nos atacar, enfim; ficamos vistas como as meninas que quase foram estupradas e o pior é que os meninos que vinham nem chegaram a nos ver.
Dias depois, voltamos a ver o mesmo grupo voltando no mesmo horário desse acontecimento. Graças a Gislene, esse foi um dos meus piores micos.

Quando o rapaz parou na porta da escola, agradecemos e saímos; a partir daí o rapaz tentou ligar o carro e não mais conseguiu.
        





Capítulo 6
AS AULAS DE INFORMÁTICA
G
Islene, Elias e eu resolvemos nos matricular à noite em um curso de informática. Parecia cansativo, pois nós saíamos às 13:00 hs e chegávamos às 18:00 hs. Com as aulas de informática, só chegaríamos às 00:00 hs, já que não daria tempo de voltar em casa. O bom é que as aulas eram apenas um dia da semana e como seria nas sextas-feira, decidimos encarar.
Ao sair da aula à tarde, íamos para a casa de uma colega chamada Carola e de lá vínhamos juntos para a aula à noite. Nos divertíamos muito, principalmente quando íamos no ônibus da escola. As luzes eram todas apagadas e aproveitávamos para gritar um monte de coisa que não tínhamos coragem de falar com a luz do ônibus acesa. Era uma barulheira horrível nesse ônibus. As pessoas iam conversando e Elias ouvia por alguns minutos a conversa e em seguida começada a dar palpite na vida dos outros, com frases do tipo: Tome vergonha na cara, você é uma invejosa, isso sim...
Quando chegava perto da escola, nós saímos do nosso lugar e nos misturávamos às pessoas para que ninguém nos identificasse ao acender as luzes, pelo local que estávamos sentados.

As luzes eram todas apagadas e aproveitávamos para gritar um monte de coisa que não tínhamos coragem de falar com a luz do ônibus acesa.






Capítulo 6
BOLSA DE OURO

T
ínhamos um trabalho sobre anexos embrionário para apresentar e na véspera do dia da apresentação, as colegas dos outros grupos nos perguntaram o que nós havíamos preparado para a apresentação e respondemos que não tínhamos nada. Elas disseram o mesmo e ficaram despreocupadas, pois sabíamos que se todos fizessem uma apresentação simples, as notas seriam proporcionais de um grupo para outro e não haveria notas ruins se o conteúdo fosse bem passado, porém se um grupo fizesse uma super apresentação, a professora daria as notas fazendo comparações entre os grupos.
Passeando pelos corredores, me deparei com uma parede cheia de belos cartazes dos alunos da noite e da manhã com os assuntos do nosso conteúdo. Não pensei duas vezes e enfiei todos em minha bolsa. Quem os fez não precisava mais deles mesmo... Só tivemos o trabalho de recortar as figuras e colar em um novo   cartaz com os nossos nomes que juntamente com uma boa explicação do tema, tivemos uma excelente nota. O problema foi que nossas colegas acharam que fomos falsas, egoístas e mentirosas ao dizer que não tínhamos nada preparado.

Não pensei duas vezes e enfiei todos em minha bolsa. Quem os fez não precisava mais deles mesmo...





Capítulo 6
O LABORATÓRIO
U
m dia, a professora perguntou se alguém poderia lhe fazer um favor. Eu sabia que era para buscar algo e como já estava cansada de ficar sentada então, logo me candidatei pra poder dar umas voltinhas nos corredores da escola.
Para minha surpresa, eu tive que buscar uns vidros que tinha uns bebês que foram abortados. Fui pensando que fosse ver um óvulo qualquer interrompido de se formar; eu não tinha ideia de que os bebês eram totalmente formados. Os dedinhos, braços, pernas, orelhas, tudo tão perfeito só que em tamanho pequeno que cabia em um vidro de azeitonas.
Quando vi, demorei a voltar para sala perplexa com o que eu estava à minha frente. Aquilo me chocou muito mais do que os corpos que vi assassinados e de acidentes.
Todos os bebês tinham uma dilaceração em uma parte do corpo provocada por remédios abortivos. Senti um nó na garganta e pela primeira vez na vida não tive nojo de um cadáver.
Voltei para a sala, mas não prestei atenção em mais nada do que a professora explicava. Eu só observava os vidros e em especial um bebê que era uma menina e seu braço estava quase solto do corpo.
Quando acabou a aula, tudo que eu queria era levar um daqueles vasos para mim. Procurei Olga, uma amiga que trabalhava na secretaria da escola, e insisti bastante para que ela me desse um, mas ela só dizia que não podia me dar, então pedi para levar para casa escondido e devolver no dia seguinte. Insisti tanto que ela acabou topando com a condição de não falar ou mostrar a ninguém.
No dia seguinte, tive que levar o bebê para devolver ao laboratório antes que alguém notasse a ausência dele e Olga fosse prejudicada, mas eu não fui à aula propositalmente.
No outro dia, levei o feto, mas como ela conversou comigo sem se lembrar de nada, não devolvi o bebe. O levei novamente para casa e fiquei com ele por uma semana em meu quarto. Eu estava fissurada por aquele vaso de conserva e não queria mais devolvê-lo, já que minha amiga não lembrava que estava comigo.
Só desisti de ficar e devolvi, quando soube que com o tempo eu teria que trocar o formol do vaso, senão ele seria deteriorado.

Demorei a voltar para sala perplexa com o que eu estava vendo. Aquilo me chocou muito mais do que os corpos que vi assassinados e de acidentes.






Capítulo 6
GENU PEITORAL

P
ouco tempo depois, da aula sobre gestação, a professora nos levou ao laboratório para uma aula prática demonstrando as técnicas usadas em pessoas acamadas durante cuidados como curativos ou banhos.
A professora pediu a ajuda de alguém e eu estava com muita preguiça devido o clima quente e teria ido, se não fosse o fato de ter que deitar em uma maca de hospital de aparência assustadora. Para minha sorte!
Uma colega chamada Edilene, achou que seria muito cômodo assistir a aula deitada enquanto que todos estavam de pé ao redor da maca observando e se candidatou dizendo:
- Nossas aulas deveriam ser assim todos os dias!
O problema foi que depois de demonstrado as técnicas para os cuidados mais simples, a professora aprofundou o assunto para as posições usadas para exames e Edilene teria que demonstrar cada uma delas, sob o olhar sério da professora Vanusa que não admitia falta de profissionalismo, risos ou gracinhas durante sua aula, mas foi quase impossível para nós, segurarmos os risos diante da posição ginecológica (pernas abertas apoiadas ao gancho) e fomos seriamente repreendidos pela professora por estar constrangendo a colega.
Todo sermão dado pela professora, de que temos que ser profissionais e blá, blá, blá tinha entrado por um ouvido e saído por outro. A vontade de soltar aquela gargalhada presa era muito maior que tudo naquele momento e já estávamos completamente espremidos por dentro de tanto segurar os risos, quando a professora nos apresentou a próxima posição- Genu peitoral (De quatro- popularmente falando). Só os olhos sorriam e lagrimejavam com tanta pressão. Foi só ouvirmos um ruído de alguém prendendo o riso e não deu outra. Nós rimos, rimos e rimos até chorar tudo que estava preso sem se importar com a professora que não teve mais nada para fazer, pois já estávamos todos completamente descontrolados. Edilene ficou conhecida como Genu peitoral e creio que nunca mais ela se dispôs a cobaia.

A professora pediu a ajuda de alguém e eu estava com muita preguiça devido o clima quente e teria ido, se não fosse o fato de ter que deitar em uma maca de hospital de aparência assustadora. Para minha sorte!





Capítulo 6
DANÇANDO COM A
A VASSOURA

C
erta vez eu estava no corredor da escola sentada conversando com Baby. Tudo estava muito deserto; a maioria dos alunos já tinham ido embora.
Foi então que peguei uma vassoura que estava no canto da parede e comecei a dançar com ela; depois comecei a brincar de cavalinho enquanto Baby morria de rir do meu jeito de aliviar o stress que o silêncio causava.
De repente, quando eu ia dobrando a esquina, dei de cara com um professor. Só tive tempo de puxar a vassoura e continuei com o braço esticado como se estivesse apenas indo guardar a vassoura. Tudo seria perfeito se Baby não ficasse rindo o tempo todo. Ele percebeu que havia algo a mais no ambiente, pois Baby não parava de rir, por mim ele poderia pensar o que quisesse. Tenho certeza de que ele jamais imaginaria uma pessoa brincando de cavalinho com uma vassoura, então tudo bem.

De repente, quando eu ia dobrando a esquina, dei de cara com um professor. Só tive tempo de puxar a vassoura.





Capítulo 6
CARLINHOS OU CARLOS?
F
alando em Baby, lembro que tinha um menino da turma do curso de agropecuária que ela não podia ver que ficava suspirando. O nome dele era Carlos, mas Baby gostava de brincar e só se referia ao menino chamando-o de Carlinhos sem. Era Carlinhos pra cá, Carlinhos pra lá, lá vem Carlinhos, Carlinhos já vai...
Um dia, nós duas estávamos olhando as informações do mural da escola, quando o tal do Carlos se aproximou de nós e começou a perguntar sobre os anúncios. Baby não perdeu tempo e perguntou o nome dele. Como se ela não soubesse ou nem havia notado que ele estudava na mesma escola que ela!
Minutos depois de ter “conhecido”, Baby já estava no maior papo chamando o menino de Carlinhos como se fosse a maior íntima. Ela se acostumou tanto a chamá-lo pelo diminutivo que nem percebeu minha cara de vergonha pela situação. Quando o menino saiu que eu disse a ela o que ela havia feito, ficou sem saber onde enfiar a cara de vergonha de Carlos.  
                                                          
Minutos depois de ter se “conhecido”, Baby já estava no maior papo chamando o menino de Carlinhos como se fosse a maior íntima.







Capítulo 7
O ESTÁGIO DE
ENFERMÁGEM







Capítulo 7
HORA DO BANHO
T
erminamos a parte teórica do curso e entramos numa enorme fila de estágio. Viajei para Salvador e fique lá por oito meses. Quando voltei, minhas colegas já haviam estagiado, então fiz meu estágio com uma turma diferente.
No primeiro dia, não sabíamos o que nos esperava quando nossa supervisora nos mandou formarmos duplas. Em seguida ela distribuiu seringas, escalpes (agulha usada quando as pessoas precisam tomar sono pela via endovenosa), garrote (Borracha que auxiliar ao puncionar a veia bloqueando a passagem do sangue deixando as veias mais visíveis) e ampolas de solução para injeção.
Antes de iniciarmos no hospital, tivemos que usar o colega e ser usado como cobaia para garantir que estávamos aptos à prática.
Saí igual peneira de tantos furos pelo corpo. Ao todo foram cinco: Três intramusculares; uma no braço, uma no glúteo e outra na coxa; Uma subcutânea na barriga e puncionamos a veia.
Uma colega chamada Patrícia estava trêmula e bastante nervosa após ser furada e na sua vez de puncionar a veia de sua colega, ela acabou fazendo a maior bagunça. Ao puncionar a veia, ela deveria imediatamente retirar o garrote para liberar a passagem de sangue pelas veias e depois retirar a agulha, mas ela fez o contrario e o resultado disso, foi o sangue da colega enchendo a mangueira do escalpe e derramando sob a mesa.
Meu estágio foi marcado, principalmente por uma figura que parecia ter saído dos filmes de comédia. Aquelas tipo de totalmente destrambelhada que derrubava tudo.
Evandro era o único homem na turma e suou na obstetrícia com os primeiros cuidados com o bebê, deixando nossa supervisora de “cabelo em pé”. Era uma briga dele, a bacia e o bebê que se mexia muito durante banho; usando luvas e pegando em sabão, não seria nada de mais, ao menos que não fosse um homem que nunca havia dado um banho em bebê.
Eu podia ver os lhos desconfiados e preocupados das mães na hora do banho dos bebês.
Parecia piada, mas sempre que era a vez dele dar banho em um bebê, era uma choradeira; mesmo que ele escolhesse o bebê mais quietinho... Não tinha jeito. O bebê que não chorava comigo hoje, chorava com ele no dia seguinte.
                                                          
Usando luvas e pegando em sabão, não seria nada de mais, ao menos que não fosse um homem que nunca havia dado um banho em bebê.







Capítulo 7
AS CESARIANAS
O
s dias das cirurgias eram muito esperados e os flashs quase davam um efeito de boate em pleno caos de um hospital público.
A primeira cesariana que assistimos, tivemos como companhia uma estagiária que era uma figura. Viviane era a comédia que tivemos em um ambiente tão doloroso e triste de um hospital, ao mesmo tempo em que era nosso pior stress. O engraçado de Viviane era o fato de ela não querer parecer engraçada. Ela simplesmente era assim e não gostava quando ríamos das doideiras dela.
Ninguém queria ficar em um setor do hospital com ela. Nós íamos porque tínhamos que trabalhar em duplas, mas não queríamos ficar com ela, pois para isso teríamos que observar as loucuras dela friamente e deixá-la matar ou aleijar um paciente ou brigar com ela o tempo, já que Viviane não sabia conversar sem alterar a voz por muito tempo todo e ser vista por todas como tão louca quanto ela. Da primeira vez que fiquei de dupla com Viviane, quase morri do coração de tanta tensão que fiquei. Só temia que aquela criatura acabasse matando um paciente com tanto desastre.
Certa vez ela levou uma reclamação da nossa supervisora quando  foi buscar uma cadeira de rodas e voltou correndo pelos corredores do hospital empurrando a cadeira que poderia atropelar um paciente ao virar uma esquina. Viviane também derrubou bandeja de material para curativo esterilizado, trocou os medicamentos dos pacientes.
Sempre quando víamos que ela iria fazer algo errado, falávamos discretamente para ajudá-la e principalmente ajudar o paciente, mas ela gritava em alto e bom som: Eu seeeeeeei!
A cena que mais nos arrancou risos foi durante a cesariana, quando Viviane viu o médico e berrou: Doutor Leônidas! O doutor respondeu com uma cara de “não sei de onde saiu essa mulher, mas ela me conhece”, respondeu:
- Ola, tudo bem?
- Tudo bem doutor, o senhor lembra-se de mim? O senhor fez o meu parto quando trabalhava em Ubatã.
O doutor sem jeito respondeu:
- Ah sim, trabalhei lá por muito tempo. Mas Viviane não aceitava e insistiu:
- O senhor não se lembra de mim?
O médico ainda mais sem jeito respondeu:
- É que fiz tantos partos na minha vida que não tenho como me lembrar de todas. Com quantos anos seu filho está?
- Onze.
Caramba! Como um médico que faz cirurgias todos os dias pode se lembrem de um parto feito a onze anos atrás? E o pior, como alguém em sã consciência pode querer que alguém se lembre de uma pessoa que viu a mais de uma década?
Ás vezes nós pensávamos estar participando de uma pegadinha de programa de televisão. Nesse           dia, Viviane falou sem parar até que por um momento ela quase enfiou a mão na bandeja com o material cirúrgico estéril, pois a cada frase, ela cutucava o médico ou dava um tapinha nas costas enquanto ele fazia a cirurgia.
O coitado já demonstrava não aguentar mais e nem nós aguentávamos mais, então eu falei discretamente:
- Cuidado pra sua mão não derrubar a bandeja.
E Viviane:
- Eu seeeeei!
Por alguns instantes, Ana e eu fizemos da sala de cirurgia um estúdio fotográfico.
Ana pediu para que eu fizesse uma foto dela, mas quando ela viu que a sua postura a tinha deixado bastante barrigudinha, mandou apagar na mesma hora para fazer outra, só que ao fazer a nova pose, ela se ergueu tanto para esticar a barriguinha que saiu com os olhos arregalados devido à força que fazia para manter a barriga light. Quando vi aquilo, esqueci de tudo e “morri” de rir chamando a atenção do médico que olhou para nós e disse: Desse jeito vai acabar o filme da máquina (brincando por se tratar de uma câmera digital).
Dias depois, uma das mães que ainda não havia tido alta, teve uma infecção na mama transformando o leite materno em pus. Seria necessária uma pequena cirurgia para retirada do pus.
Estávamos apenas observando o médico que aparentemente não precisaria de ajuda.
O médico fez um corte perto da auréola (local onde fica o bico do seio) e começou a enfiar uma tesoura cortando o pus que estava bastante consistente e em seguida começou a espremer o seio para retirar o pus. Algumas das minhas colegas viraram o rosto não querendo ver e ao ver isso, o médico bastante brincalhão perguntou:
- Vocês já comeram pão com leite condensado?
- Parece com isso aqui, não é?
As meninas fizeram uma cara de nojo enquanto o médico ria e pra tirar ele de tempo eu disse:
- É uma delícia! Hummmm, até enchi minha boca de água só de imaginar tudo isso aqui no pão. O médico quase derramava o pus que enchei duas cubarrinhas de pus. Como eu era a única que estava com luvas no jaleco, calcei as mãos e peguei uma das cubarrinhas para jogar fora, porém, antes torturei o psicológico das minhas colegas pedindo para que elas se imaginassem bebendo todo aquele pus. Só para descontrair.
Ás vezes nós pensávamos estar participando de uma pegadinha de programa de televisão. Nesse   dia, Viviane falou sem parar até que por um momento ela quase enfiou a mão na bandeja com o material cirúrgico estéril.







Capítulo 7
FOI POR POUCO!

U
ma adolescente deu entrada no hospital sentido dores de parto. Após o médico examiná-la, a mandaram para a sala destinada às mulheres que estão para dar a luz, num prazo mais distante.
A paciente queixava-se de dor, mas estava com pouca dilatação e seu parto estava previsto para o dia seguinte.
O clima estava tranquilo no hospital, então minha supervisora me deixou observando os sinais vitais e frequência das contrações dessa paciente.
Em questão de minutos, o parto previsto para muito tempo depois, começava a acontecer ali na minha frente. Nada de mais até ali, ao não ser o fato de estar completamente sozinha com a paciente; ou seja: Eu iria fazer o parto dela sem nunca ter feito nem um parto de mosquito antes.
No momento não tive medo, pois pensei: Não deve ser difícil afinal quem fará tudo é a grávida mesmo... Eu só terei que segurar o bebê para não cair no chão. Porém, lembrei das cesarianas e percebi que a criança nascia com o cordão em volta do pescoço com mais freqüência do que eu imaginava, então para garantira a segurança           do bebê, sai para chamar minha supervisora de estágio que estava em outro andar do hospital.
Quando vi a cabeça do bebê começar a sair, não sabia o que fazer. Seria mais seguro para o bebê: Deixá-lo cair no chão ou aventurar um cordão umbilical enforcá-lo?
Eu já não tinha muita opção e temendo deixar a mãe sozinha, corri até a porta e voltei uma três vezes, tentando decidi a melhor opção naquele momento.
Só me restou gritar da porta pedindo a maca para levar a paciente à sala de centro cirúrgico, até que alguém apareceu.
Quando a mãe chegou à sala o bebê já estava saindo e não demorou nada para ele nascer e como pressenti, o cordão estava em volta do pescoço, mas foi retirado em uma manobra feita quando ele ainda estava apenas com a cabeça fora.
Depois do parto, achamos curioso o fato de não haver ninguém acompanhando aquela adolescente e ao observá-la melhor, constatamos que ela tinha um distúrbio mental e parecia não ter família.
Ficamos preocupados se ela não faria algo com o bebê e nos revezamos para olhá-la constantemente, mas vimos que instinto materno era maior até mesmo que a seu distúrbio mental, pois ela cuidava muito em do filho e parecia querer protegê-lo até do ar.

Em questão de minutos, o parto previsto para muito tempo depois, começava a acontecer ali na minha frente. Nada de mais até ali, ao não ser o fato de estar completamente sozinha com a paciente.







Capítulo 7
PRONTO SOCOSSO
 
O
 pronto socorro é a área do hospital que exige muita frieza, agilidade, rapidez e raciocínio rápido, afinal, é lá que as pessoas recebem os primeiros cuidados quando chegam ao hospital.
Quando comecei o estágio de enfermagem, eu ainda não havia superado o nojo excessivo a cadáveres, mas estava pronta para superar e bastante curiosa com a experiência.
 É até engraçado, mas eu não tinha nojo de sangue, pus, catarro, vômito, mas um defunto me embrulhava o estômago, ainda que estivesse acabado de tomar banho e eu estivesse de luvas, mas eu estava disposta a superar essa bobagem.
Já estávamos no pronto socorro há algum tempo, quando um senhor de mais ou menos 65 anos havia sido levado ao hospital por uma vizinha, esperava administração de medicamento receitado pelo médico.
Minhas colegas de estágio, Lúcia e Ana estavam comigo preparando alguns medicamentos para serem administrados, quando o senhor que tinha por nome Maximiliano, caiu da cadeira que estava sentado e sua vizinha gritava sem para: Sr, Maximiliano, Sr, Maximiliano, Sr, Maximiliano... Eu nunca mais esqueci esse nome. Foi a primeira pessoa que vi morrer e talvez, o primeiro defunto que peguei. Deixamos tudo que estávamos fazendo e corremos para socorrer o paciente. Seguimos os comandos do médico e cada um fez sua parte: Lúcia verificou a pressão arterial, Ana puncionou a veia enquanto eu fui buscar no armário as duas ampolas decisivas para reanimar o paciente  injetando-as na corrente venosa. O peso da responsabilidade colocada em minhas mãos era grande, mas consegui manter uma calma tremenda e dar conta do recado com a agilidade que o momento exigia. Injetei uma ampola e parti para a segunda, mas quando estava na metade, todos pararam o trabalho, mas eu concentrada como estava, nem notei e continuei, agora querendo ressuscitá-lo, quando Lúcia me cutucou falando pelo canto da boca:
- Pode parar!
Tudo que eu queria, era cumprir minha tarefa, então respondi:
- Já estou terminando!
- Lúcia: Ele morreu! Foi aí que percebi o triste fim do senhor Maximiliano. Pensei que seria o primeiro corpo que “cuidaríamos”, mas chamaram dois dos auxiliares de enfermagem homem para levar o pesado corpo. Acompanhei todo processo e até fugi do ponto socorro para ir ao local onde os corpos eram deixados para serem retirados pelos familiares, mas como não foi necessária minha ajuda, só observei quando os dois arremessaram o corpo do pobre Maximiliano como um saco de batatas.
O peso da responsabilidade colocada em minhas mãos era grande, mas consegui dar conta do recado com a agilidade que o momento exigia.






Capítulo 7
A ENFERMARIA
 
A
 enfermaria é a área do hospital que particularmente eu considero a mais imprevisível, pois a maioria dos pacientes está com um quadro clínico instável, mas quando você menos espera, elas acabam morrendo.
Foi o que aconteceu com uma senhora que conversou e até sorriu conosco ao contar-nos sua vida. A simpática velhinha cativou a todos, mas ao chegarmos no dia seguinte pela tarde, no salão do hospital onde os pacientes que podiam se locomover ia assistir televisão, havia um padre celebrando uma missa. Era a simpática velhinha que havia falecido durante a madrugada. Mas esse não foi o caso que mais chamou minha atenção na enfermaria.
Certo dia, nossa supervisora perguntou quem se prontificava a fazer um curativo em um senhor que era acamado. Uma colega chamada Bianca e eu nos dispusemos. Pegamos tudo que seria necessário e fomos lá.
Ao chegarmos, olhei e não vi nada de errado com aquele senhor. Perguntei à sua filha onde era o local e ela disse que era nas costas.  Pensei que seria um trabalho simples, porém, quando viramos o paciente no leito, vimos uma enorme ferida na região do osso cóxis, devido a sua permanência por muito tempo no leito sem um colchão de água para evitar as escaras que formou uma enorme ferida e cheirava muito, mais muito mal ao ponto de se tornar insuportável. Bianca e eu revezamos para que pudéssemos respirar um pouco do lado de fora. Chegamos a colocar três máscaras uma por cima da outra ficando até com dificuldade para respirar, mas ainda assim podíamos sentir o forte odor, porém o que mais me impressionou foi a dificuldade que tivemos para fixar um pouco se quer de pomada no local, pois ao encostar a espátula, a ferida cedia e o buraco ficava ainda maior ao ponto de vermos um buraco oco dentro do paciente.
A cena que não esqueci, foi quando tivemos que colocá-lo no leito na mesma posição que ele se encontrava anteriormente. Os movimentos durante o curativo o fizeram sair do lugar.
Contamos até três para erguê-lo e de uma só vez, colocá-lo no lugar a fim de evitar que ele sentisse mais dor. Imagino que ele tenha sentido muita dor, pois percebi o quanto os homens querem se mostrar durões mesmo quando na verdade estão com medo; sua respiração profunda e seu olhar de angústia demonstraram o quanto ele sofria com as dores. Ele parecia um morto vivo. Eu sempre achei que por mais que a pessoa esteja acamada por anos, a vida é o mais importante, mas foi ali que percebi que nem sempre a morte é uma coisa tão ruim.  Me perguntei se não seria melhor pra ele morrer do que sofrer daquela forma.
Chegamos a colocar três máscaras uma por cima da outra ficando até com dificuldade para respirar, mas ainda assim podíamos sentir o forte odor.







Capítulo 7
GASES OU GAZES?

F
inalmente meu estágio estava chegando ao fim.
Em um final de tarde, estávamos na sala onde se esterilizava as ferramentas do hospital. Estávamos embalando as gazes, onde tínhamos que identificar cada pacote com o nome e data que foi esterilizado. As meninas estavam em clima de disputa ao comentarem que o hospital precisaria contratar um novo funcionário, devido à aposentadoria de uma auxiliar de enfermagem. Esses foram os dias em que mais me diverti, pois vi o comportamento das meninas mudarem tanto ao ponto de se tornarem ridículas. Antes, a maioria só fazia o que a supervisora mandava e até escolhiam o que queriam fazer, mas agora elas estavam oferecendo ajuda a todos. Queriam mostrar serviço a todo custo. Se um médico precisasse de alguma ferramenta, todas disputavam para pegar primeiro, pois achavam que ao entregar ao médico, estariam mostrando serviço e teriam mais chance de preencher a vaga de emprego.
A cena que eu achei mais bizarra foi quando passamos pela sala onde ficavam os cadáveres e havia um corpo lá. Uma colega chamada Silrene, que era filha de uma auxiliar de enfermagem que inclusive já havia trabalhado nesse hospital, ao ver que os funcionários vinham em nossa direção, Sirlene parou perto do corpo com cara de quem estava distraída pensando em algo que iria fazer, se apoiou com o cotovelo no cadáver e ficou nessa pose por alguns segundos até que resolveu voltar de onde ela havia acabado de vir. Na verdade ela só foi até lá para fazer aquilo e ainda pensou que ninguém notaria que era exibicionismo dela com essa cena ridícula dela. Será que aquela criatura não sabia que poderia adquirir alguma doença?
Só não entendi o que ela achava que os outros pensariam ao vêla assim, sem saber ao menos do que aquela pessoa tinha morrido. Quem teria dito a ela que quem trabalha em hospital teem contato com cadáver por prazer, sem mais nem menos e ainda sai sem lavar as mãos? Que porquinha! Talvez ela achasse que por ser filha de uma auxiliar de enfermagem, devesse mostrar que era como sua mãe, sei lá o que se passa na cabeça de uma retardada.
Voltando às gazes, percebi que apenas eu estava escrevendo na embalagem “Gazes” enquanto que todos escreviam “Gases”. Comecei a rir e para provocá-las eu disse: Desse jeito, que hospital vai contratar uma pessoa que escreve com erro de português! E quando for fazer a evolução clínica do paciente, as anotações no prontuário, anamnese... Assassinando a língua portuguesa não dá, não é?
Ao ver que todas escreviam iguais, disseram que eu é quem escrevia errado. Como não as convenci e muito menos elas me convenceram, lembrei que na sala de curativos tinha uma vasilha onde as gazes ficavam guardadas e fui ver se havia algum pacote escrito por um funcionário para mostrar a elas. O curioso foi que um funcionário havia escrito em um pedaço de esparadrapo e colado na vasilha então fui conferi para mostrá-la, mas, acredite. Também estava escrito “Gases”. Eu disse: Escreveram errado aqui também e agora é que elas não me levaram a sério. Teimosa do jeito que sou, sai pelos corredores do hospita, fui até a recepção e perguntei a menina se tinha algum dicionário em meio às revistas velhas que ficavam lá. Ela encontrou um bem antigo e me deu. Voltei para sala e li para as meninas as definições de “Gás” que se referia ao ar e “Gaze” que era definido como tecido mole e transparente. Tiveram que transformar o “S” em “Z” em mais de cem pacotes.
O engraçado foi que no final disso tudo, nenhuma conseguiu a tal vaga, mas eu que nem queria nada, acabei ficando amigo de um médico chamado Henrique que era dono de uma clínica particular.
Doutor Henrique dizia saber reconhecer de longe uma pessoa inteligente. Me achou muito inteligente e dizia isso a todo instante que até me deixava sem graça. Ele me pediu que fizesse uma redação como um teste de trabalho e depois que ele leu minha redação de título: Loira x Morenas (tema sugerida por ele), gostou e me chamou pra trabalhar com ele, porém não seria em sua clínica e sim, como redatora em seu site jornalístico. Ele pretendia se lançar prefeito de sua cidade e me tornar uma espécie de jornalista da região, me propondo acompanhar temas políticos da região e fazer comentários para o site.
Fui ao seu escritório para conversar e acertamos tudo: Eu escreveria sobre o tema que eu quisesse e o enviava por e-mail para que ele atualizasse o site. Eu trabalhava em casa e fazia meu horário. Tem coisa melhor que isso? No final, só eu tinha algo pra fazer após o estágio.
                                              
Ao ver que os funcionários do hospital vinham em nossa direção, Sirlene parou perto do corpo com cara de que estava distraída pensando em algo que iria fazer, se apoiou com o cotovelo no cadáver.







Capítulo 8

O CURSO PREVESTIBULAR








Capítulo 8
AS VERMELHINHAS
E
u estava sem fazer nada quando uma amiga me falou sobre um cursinho prevestibular que havia aberto na cidade vizinha que ficava a 27 Km da minha cidade. Foi aí que resolvi chamar Valéria e passamos a frequentar as aulas no período da tarde.
Nos primeiros dias nos éramos só duas alunos a mais, porém resolvemos nos destacar criando nossa farda do cursinho. Uma blusa vermelha com letreiro prata de modelo baby look tão curtinha que se eu levantasse o braço, a barriga ficava de fora; já Valéria que era bastante alta, a cada dois passou puxava a blusa para cobrir a barriga que ficava à mostra.
Não tínhamos amizade com nenhum aluno, muito menos com os professores. Sempre chegávamos atrasadas e o professor de matemática gostava de fazer piadinhas o tempo todo. Quando entrávamos dando um boa tarde que interrompia a aula, pois todos nos olhavam, começamos a sentir que o professor Miraldo nos olhava querendo dizer que deveríamos chegar mais cedo, devido o tom de voz que ele usava, juntamente com uma cara de riso, mas Valéria e eu mantínhamos uma pose de seriedade que não durou muito tempo.
Ao estrearmos nossas fardas, chamamos à atenção da turma que nos perguntavam onde que vendia e nós dizíamos que só existiam as nossas, pois mandamos fazer por encomenda especialmente para nós duas.
Foi só o professor Miraldo nos vir para responder nossa saudação:
- Boa tarde, vermelhinhas!
Era só chegarmos para o professor engraçadinho:
- Olha as vermelhinhas! Tudo bem, vermelhinhas?
Nossa cara não era nada amigável para ele, afinal ele havia tirado todo glamour da nossa farda, mas ele era tão cara de pau que não se intimidava.
Pouco tempo depois eu o encontrei na cidade em que ele morava e coincidentemente ele era amigo de Caroline; uma amiga que havia conheci a pouco tempo, então acabamos ficamos amigos. Trocamos MSN, Orkut e de vez em quando batemos um papo pela internet.

Nossa cara não era nada amigável para ele, afinal ele havia tirado todo glamour da nossa farda.







Capítulo 8
FARMÁCIA
 
Valéria e eu voltávamos para casa, quando percebemos que uma mangueira em um quintal de uma casa, estava entrando na safra e já tinha várias mangas. Nós adorávamos manga verde com sal e quando vimos tantas delas juntas, esquecemos de tudo e começamos a conversar de cara para cima olhando para a mangueira e falando como era deliciosa uma manga daquelas com sal.
Não percebemos que logo atrás de nós vinha um rapaz que ouvia toda nossa conversa e ao passar por nós ele nos olhou e disse:
- Vocês gostam mesmo de manga hem?
Ficamos envergonhadas por parecermos umas mortas de fome cobiçando as mangas alheias.
Continuamos andando e quando chegamos ao ponto de ônibus, um rapaz com jeito esquisito passou por nós. Farmácia foi o apelido que Valéria deu a ele. Aparentemente intelectual, ele passava por nós com um caderno debaixo do braço à caminho da universidade com uma camisa escrito o nome do curso que estudava (Farmácia). Todas as tardes quando estávamos indo para casa ele passava por nós.
Este jovem nos chamou nossa atenção devido o jeito esquisito de se comportar. Ele andava sempre com a cabeça levemente erguida olhando para o céu e quando percebia que alguém olhava pra ele, imediatamente baixava a cabeça como um avestruz que enfia a cabeça no buraco.
Aquela cena começou a nos divertir, então passamos a esperar ansiosas pelo momento em que “Farmácia” viria só para vejo baixar a cabeça assustado ao nos vir olhar pra ele.
Pouco tempo depois, Farmácia estava com uns amigos em um ônibus que estava parado em um ponto da nossa cidade, quando Valéria passava sozinha, então ele fixou o olhar em direção a ela deixando-a sem graça que só pôde baixa a cabeça e seguir.
E nós pensando que Farmácia era um tímido bocô!
Tempos depois, fui visitar minha amiga Caroline que morava em outra cidade (a mesma que conhecia o professor Miraldo) e encontrei Farmácia que também era amigo de Caroline; ele estava passeando com duas cadelinhas poodle. Quando o reconheci, inventei uma desculpa e me afastei da minha amiga. Foi aí que descobri o verdadeiro nome de Farmácia. Fernando, mas não tive nenhuma amizade com ele por vergonha de tudo que fizemos.

Aquela cena começou a nos divertir, então passamos a esperar ansiosas pelo momento em que “Farmácia” viria só para vejo baixar a cabeça assustado ao nos vir olhar pra ele.





Capítulo 8
VIDRO DE CAR RO NÂO É ESPELHO
 
N
o caminho até o cursinho, havia uma clínica onde ficavam vários carros estacionados ao longo da rua. Dentre essas clínicas ficava a do Dr Henrique.
Sempre que Valéria e eu passávamos por ali, aproveitávamos para dar uma conferida no visual dando uma olhadinha pelo reflexo dos vidros dos carros.
Valéria era bem magrinha e mesmo tento um corpo de modelo, ela não era satisfeita com seu peso e sonhava em engordar um pouco.
Em um desses dias em que passávamos por essa rua, vimos que havia um bonito carro preto estacionado, que tinha uma pintura perfeita acompanhado de vidros escuros com um brilho incrível. Nossa admiração não foi pelo modelo ou beleza do carro e sim pelo nosso reflexo nele que parecia um verdadeiro espelho.
Me olhei rapidinho sem parar de andar, pois estávamos com pressa, mas Valéria parou em frente ao carro e me chamou para ver como ela seria se fosse mais gordinha. Nosso reflexo na pintura do carro nos fazia parecer mais gordinha do que realmente éramos.
Quanto mais eu chamava por Valéria, ela fazia pose em frente ao carro se olhando; como vi que ela não iria sair dali tão rápido, resolvi voltar para arrumar o visual também. Olhamo-nos de frente, de costas, de longe, de perto, até que o vidro do carro começou a descer. Havia três homens que nos olharam com cara de riso.
Que vergonha! E tudo por culpa de Valéria. Saímos sem olhar para trás. Fui o caminho inteiro culpando Valéria pelo mico que ágamos e rindo muito é claro.

Nosso reflexo na pintura do carro nos fazia parecer mais gordinha do que realmente éramos.







Capítulo 9
O CURSO DE TEATRO














Capítulo 9
O CURSO DE TEATRO
 
C
om pouco tempo de cursinho, fizemos várias amizades com os colegas e com os professores.
Em uma de nossas conversas com a professora Ariele durante o intervalo, ela nos falou sobre sua grande paixão, que era o teatro. Ela tinha uma vontade de montar um grupo e sair com uma peça teatral pela região. Valéria e eu nos animamos de cara, pois já havíamos participado de várias apresentações na igreja e na escola.
Até já havíamos criado uma peça na igreja sobre uma jovem que vivia uma vida sem limites até que ela sofria um acidente de carro. O engraçado dessa estória foram os efeitos especiais que foram criados por nós mesmo. A maioria foi com o radinho de fita cassete da minha avó. Insisti até que consegui fazer com que Valéria simulasse o som de pinel de carro cantando na pista e em seguida batemos umas panelas na outra para dá o efeito de carro capotando em barranco.
Essa peça era pra ter sido um drama, mas na verdade se transformou em uma tremenda comédia devido a esses efeitos especiais.
Ariele tinha o dom de empolgar as pessoas e influenciá-las a pagar mico satisfeitos e foi isso que aconteceu com a turma durante todo o curso. Mais de vinte pessoas passaram a sacrificar seus sábados para frequentar às aulas de teatro.
As primeiras aulas foram para aprimorar os sentidos, aprender a se soltar diante do público, dinâmicas de concentração e improvisos.
Eu sempre gostei de participar ajudando em tudo quanto é coisa que fosse fazer demonstrações e às vezes quando eu não ia, acabavam me chamando por eu ter um peso, digamos que mais maleável em casos que teriam que usar a força. Depois de ter me livrado da aula do Genu peitoral, fiquei mais cautelosa, principalmente nas aulas de teatro que eram sempre imprevisíveis; por isso, não manifestei interesse quando Ariele perguntou se alguém se candidatava para a próxima dinâmica.
Como todos ficaram calados, Aliele teve que indicar alguém e mesmo não tendo me manifestado, o óbvio aconteceu. Ariele me convocou a participar.
O que eu não sabia era a tarefa que me esperava. Tive que subir em uma cadeira que estava no palco enquanto Ariane uniu os outros alunos em duplas formando um longo “corredor” com os braços.
Ariele nos disse que em certas peças, o elenco teria que confiar muito uns nos outros para correr tudo bem e essa dinâmica era justamente para isso. Proporcionar confiança, mas poderá numa boa ser chamada de suicídio. Detalhe: só eu fiz a tal dinâmica. Será que só eu teria que confiar nos colegas? E os outros? Não iriam confiar uns nos outros?
Minha missão seria ficar de costa em cima da cadeira que estava no palco e me jogar para trás confiando que meus colegas não me deixariam cair. Somando a altura do palco com a altura que fiquei ao subir na cadeira, fica por volta de quase três metros de altura.
Fechei os olhos e me joguei de costas. Graças a Deus deu tudo certo, senão não estaria aqui hoje relatando o acontecido.
A próxima foi a dinâmica do improviso, onde Ariane chamou Sueli e Luan para subirem ao palco onde Sueli faria um movimento qualquer e Luan teria que criar um movimento à partir do movimento de Sueli.
Sueli fez um movimento de ginástica com os braços subindo e descendo constantemente; Sem muita idéia com o que fazer e pensado que essa dinâmica seria rápida, Luan fez um movimento agachando e levantando debaixo de um dos braços de Sueli. O problema foi que Ariele chamou um por um para participar do que ela chamou de “máquina humana”.
Do início até as mais de vinte pessoas pensarem e se encaixarem com um movimento na “máquina humana”, Luan sofreu pedindo para andarmos depressa. No dia seguinte, o coitado não aguentava nem andar direito com dores nos músculos das pernas e eu quase tive uma inflamação na garganta de tanto rir dele.
Para desenvolver nossa expressão corporal, tão importante para um ator de teatro, Ariele nos fazia contracenarmos com objetos invisíveis e isso particularmente fazia com que eu me sentisse ridícula. Por várias vezes me vinha o pensamento: Meu Deus, eu estou deixando de me divertir aos sábados para pagar mico de graça aqui!
Certo dia, Ariele quis trabalhar nossa concentração, então nos propôs a fazer a antiga brincadeira, chamada “escravo de Jô”.
Só que tinha um detalhe: Quem fosse perdendo, além de sair da brincadeira, teria que pagar um castigo que seria sugerida por ela e por nós.
Logo no início todos nós erramos bastante, principalmente eu que não conhecia a brincadeira.
Quando começamos pra valer, não demorou muito para começarem a errar e como castigo, Ariele sugeriu alguns mico, como: Levar uma cadeira e colocá-la em frente a uma sinaleira para a subir e declamar com toda emoção, a letra de uma música brega chamada “arrocha”; Valéria e Luan ficaram com a missão de simular uma briga de fim de relacionamento no meio da rua com todos vendo, inclusive nós que fingíamos estar passando por acaso no local para não perceberem que se tratava de um curso.
No início da brincadeira eu estava apreensiva, mais quando peguei confiança me diverti com os castigos que os outros pagariam, então comecei a sugerir os castigos bem bizarros como sair correndo pela rua gritando e puxando os cabelos, imitar o Michael jackson, contar uma piada para algum desconhecido na rua...
O pessoal começou a não gostar das minhas ideias e passaram a torcer contra mim só para me colocar para fazer algo bem absurdo, mas consegui vencer a pressão de todos e fui a grande vencedora do jogo, por isso só tive a mais ruim das tarefas: assisti-los pagar mico e rir muito deles.
As coisas estavam começando a “esquentar, mas como o cursinho havia chegado ao fim e depois que presenciei tantos “gorilas”, Valéria e eu, deixamos de freqüentar o curso de teatro temendo que em uma dessas aulas em público encontrássemos algum conhecido. O mico seria muito pior.
Tempos depois encontramos Luan e ele me disse que fizeram uma peça e até viajaram para apresentá-la em outras cidades. Nessa hora nos deu um arrependimento por ter deixado o curso e por tantas coisas legais que deixamos de viver. Parece que só apresentaram uma peça, pois o grupo se desfez

Depois de ter me livrado da aula do Genu peitoral, e ter presenciado o sofrimento de Luan na “máquina humana” eu fiquei mais cautelosa.









FIM

continua...


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